terça-feira, setembro 26, 2006

- Preciso falar contigo. Vem imediatamente ter a minha casa. Não aceito desculpas.

Biiiip…

- Desligou-me o telefone na cara…Ela nunca me faz isto! – pensou ele – Deve ser algo mesmo muito grave…Talvez seja melhor ir ver o que ela quer e preparar-me bem. As mulheres quando estão assim são muito perigosas…

Vestiu-se apressado e caminhou em direcção àquela casa que ele tão bem conhecia. Bateu à porta na esperança de que nada se passasse mas mal entrou sentiu que ela não estava nada bem.

- Vim logo que pude. O que se passa?

- O que se passa??!! O QUE SE PASSA?!?! – gritava ela vermelha de fúria – O que se passa é que tu não respeitas nada! Sim, não faças esse olhar de desentendido que eu sei muito bem que te aproveitaste da minha ida de férias para vires ao meu apartamento buscar o pijaminha. Não te dou esse direito ouviste?!

- Mas eu…

- Mas tu nada! Devolve-mo JÁ!

- Mas eu não tenho o pijama. E estou tão perturbado como tu com esse desaparecimento! Sabes bem o quanto eu amava esse pijama. Sabes bem que sem ele nada faz sentido… Nada… Precisamos de encontrar o responsável!

- O quê? Não foste tu? Então e o bilhete??

- Que bilhete?

- Aquele que me deixaste… dizia: "Não te encontro. Tive de vir buscar uma parte de ti. Quando voltares procura-me para to vestir. Só contigo ele ganha vida e cheiro. Volta depressa." E estava junto de flores de jasmim…tal como tu me costumas dar.

- Juro-te que não fui eu…

- Não consigo confiar em ti. Desaparece da minha vida.

- Não estás a ser razoável…

- Nunca fui.

- Podias tentar…

- Tentar faz-me dores de cabeça. Desaparece!

- Vou-me embora porque já vi que estás nervosa… Telefona-me quando melhorares.

O barulho da porta anunciava a sua partida mas ela continuava prostrada na cama sem saber o que pensar.

Teria sido ele? No entanto parecia dizer a verdade… Então quem poderia ter sido? Ninguém sabia da existência do pijaminha… Ou pelo menos era o que ela pensava. Talvez alguém a andasse a espiar! Só de pensar nisso os seus cabelos arrepiaram-se… Terrível ideia, contudo, possível.

Não adiantava pensar nisso agora, teria de arranjar um plano e enquanto isso tinha de esquecer aquele vazio…

Whisky on the rocks, please.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Chegara a hora de enfrentar a situação.
Que desagradável era voltar de férias e ter de encarar memórias que tinham derretido com o calor do sol ou ficaram cristalizadas contra a toalha de praia a par do sal do mar...
As lágrimas caiam e purificavam a terra imunda que jazia no chão, já gelado, à medida que ela apanhava o rasto de destruição que uma obsessão deixou para trás. As flores, sem vida, também choravam. Haviam experienciado uma fúria pela qual não eram responsáveis. Na realidade ninguém era, nem ela, que as tinha deixado ali caídas, para morrer.
«Isto tem de mudar - pensou - Isto não é vida para ninguém...»
Não podia manter alguém assim na sua vida. As pálpebras fechavam-se de cansaço e dor. A cabeça latejava e ela, a medo, pensava até onde iria aquele indivíduo que ela tinha posto dentro de casa.
Engraçado como com perigo eminente nos tornamos racionais o suficiente e conseguimos rapidamente pôr de parte a parte emocional que nos leva a errar tanto. Os momentos que viveram eram uma parte da sua vida que não queria apagar, mas ela não conhecia mais a pessoa que arrombara a sua porta daquela maneira. Já não confiava nem podia confiar...
Ao arrombar a porta da sua casa arrombara também a porta que lhe garantia uma entrada segura e consentida na sua vida. Partira-lhe as flores em busca de um prazer terreno, qual bruto, ávido, sedento animal.
Ele partira-lhe as flores, ultrapassou a barreira do razoável. E isso ela não perdoaria.

Agora a história era outra....