segunda-feira, janeiro 27, 2014

Pequeno-almoço

Acordas-me ao deslizares o teu braço para longe da minha pele. Abro os olhos estremunhada e vejo-te num espreguiçar lânguido: o teu corpo moreno recortado contra o lençol de cor viva deixado ao saboroso abandono de uma manhã de fim-de-semana. Sentia suaves dores por todo o corpo, sabia que ia encontrar negras em locais inacreditáveis dali a uns dias... e sabia que ia sorrir quando as descobrisse.

Levantas-te e segues sorrateiro até à cozinha. Apercebo-me de que estamos em tua casa. A forma sôfrega com que me foste conduzindo pelas escadas até uma das portas no patamar não em deixou perceber se estávamos a entrar na minha ou na tua casa, nem me lembro de ouvir a chave na porta. Entras de novo no quarto a morder sedento uma maçã. Perguntas-me o porquê da minha expressão incrédula, eu sorrio e não te digo no que pensava.

 Aproximas-te carinhoso, onde estaria o feroz amante da noite anterior? O teu toque sedoso e delirante na minha pele amanhecida provoca-me um arrepio. Sorris, deixaste a maçã de lado, não sem antes lhe cravares uma última dentada, deixando o sumo a escorrer pelo queixo. Delicioso e fresco. O melhor dos pequenos-almoços.

terça-feira, janeiro 14, 2014

És tu?

Quando cheguei não quis acreditar no que via.
Seria possível que viesse do outro lado do mundo e acabava a trabalhar ao teu lado?
Soube logo ali, no primeiro dia, que trabalhar contigo ia ser um tormento diário. Demasiadas histórias, demasiados cantos escuros onde os nossos corpos nus se podiam esconder.
Demoraste a encontrar-me. Demasiados gemidos, demasiada tesão contida em tantas noites de roupa interior a meio caminho, rasgada, agarrada a um tornozelo perdido e contorcionista.
Mas quando me encontraste, tiveste-me. Cruzamo-nos num corredor e eu soube. Segui atrás de ti, como se puxada pelo cheiro do fogo que fomos, noutras noites. 
Abandonamos o edifício e na primeira curva à esquerda empurraste-me contra a parede húmida.. Éramos duas.
Estavas duro já, quase zangado. Mordi-te o lábio, tu sabias e não te defendeste. Pouca resistência ofereci quando me torceste o braço e me colaste o rosto à parede. Há pouco a dizer dos teus beijos, uma balada pesada, descompensada e descompassada. Um misto de quase terno e poderoso, tão fodido da cabeça como de mim.
Mordeste-me o pescoço enquanto me percorrias o corpo com as mãos.  Eu sentia-te a latejar e arfava, desgrenhada e desgovernada. Agarrei-te o rabo por trás e puxei-te para mim. 
Abriste o fecho, eu subi o vestido.
Com uma mão cravada na cintura puxavas-me para e contra ti, a outra mão pousada no ombro enquanto te chupava um dedo ou te mordia.
Puxaste-me pelo cabelo e eu virei-me de frente e encarei-te.

- Estas igual, Miguel. 
Leva-me para casa.



sexta-feira, janeiro 06, 2012

mais uma noite.

Rebolou para o lado, cansada. Ainda mal acreditava no que se tinha passado... olhou para ele: tinha um meio-sorriso insolente pendurado nos lábios. Mentalmente refez os passos. 
Jantar descontraído, cinema, um beijo à porta de casa... outro nas escadas, carícias a dificultar a perícia de pôr a chave na fechadura, roupas no chão. Nem se dera ao trabalho de verificar se Miguel, o vizinho da frente, se teria apercebido de alguma coisa. Não era a primeira vez que Letícia acabava nos braços de João, já lhe tinha provado os beijos numa outra noite de Verão. Mas desta vez fora inesperado. 
Um só toque ateara o desejo que depressa tomara conta da situação. As mãos dele tinham-na explorado com calma, os lábios não haviam deixado um centímetro de pele por saborear. Ela estremecera quando a língua dele tocara no seu ponto mais sensível. 
As respirações ofegantes numa mistura de pele e carne tinham conduzido Letícia para cima de João. Montara-o sem pudor - quase se surpreendeu por isso - com a libido em fogo e o corpo em brasa. Ele respondera, o corpo a reagir ao mais leve movimento até chegar ao orgasmo. E agora respirava audível, esperava que a pulsação acalmasse para pensar em ir para casa.

terça-feira, novembro 16, 2010

A minha casa

- Em que pensas?

- Nada...

E um sorriso.

- Sorriste, em que pensas?

- Em ti, no teu corpo...

Ela sorri.

- Em como o meu corpo gosta tanto do teu?

Ele Sorri mais ainda, acena que sim e beija-a.

- O teu corpo é a minha casa.

segunda-feira, setembro 20, 2010

Já não te via há meses.

E nem sei como é possível ser tua vizinha e não te encontrar durante tanto tempo, Miguel. Soube que estiveste de férias... e aparentemente o teu horário mudou. Se calhar até mudaste de emprego e eu não sei.

Mas ontem entraste no prédio quando estava à espera do elevador. E olhaste para mim como se fosse a primeira vez. Vinhas bronzeado com o cheiro das noites de verão e um sorriso delicioso nos lábios. Falámos. Convidaste-me para ver as mudanças que tinhas feito em casa... uma pobre desculpa para me teres na tua arena. Mas eu estava ébria com as lembranças do teu sabor, queria provar-te uma e outra vez, por muito que tentasse negá-lo.  Fui. Dei-te tempo para gastares o latim e fui gentil o suficiente para te deixar ter a iniciativa.

Rodeaste-me e com o peito encostado às minhas costas sussurraste "Tive saudades tuas". Arrepiei-me. E tu continuaste com a dança da sedução. Sorri e rendi-me. Tocaste-me como se estivesses a tocar a minha pele pela primeira vez. Deixei que me despisses, sabia como gostavas de o fazer, sentir esse poder. Demoraste-te em cada centímetro e eu entreguei-me. Fui tua, corpo e alma, objecto de prazer e de admiração, musa e deleite, só para ti. Um só toque da tua mão fazia-me estremecer e eu estava a adorar. Apertaste o meu corpo entre os dedos com fulgor, sentia o desejo na tua pele e o meu a aumentar. Agarrei-te o pescoço e beijei-te, gulosa e sôfrega. Sabias-me bem. Já me tinha esquecido do teu sabor, agridoce, viciante. Depois de te sentir o paladar, quis provar tudo o que o teu corpo parecia esconder. Não deixaste, seguraste-me o queixo e mordeste-me o lábio. Apertaste-me os pulsos e uniste-os ao fundo das minhas costas, ataste-os com alguma coisa que encontraste junto à janela, uma fita da cortina, vim a descobrir depois. E, sem explicações, afastaste-te e despiste-te para mim... sexy. Depois conduziste-nos aos tropeções até ao chuveiro e abriste a água, entre beijos e provocações. A água escaldava e eu queria libertar as minhas mãos para sentir a tua pele, mas estava delirante ao sentir as tuas explorar o meu corpo. Fechei os olhos e deixei-me levar, valeu a pena estar tanto tempo sem ti. Deixaste-me em brasa, à beira do precipício, uma e outra vez, mas só quando me desataste e me levaste para a cama é que me deixaste consumir-te com prazer.

Acordei com o teu corpo colado ao meu, o teu calor a envolver-me numa manhã estranhamente serena. Quis mais, roubei-te um beijo e o sono. Explorei a tua pele morena debaixo dos lençóis... e senti-te arrepiado, em alvoroço com a proximidade da minha respiração e do meu corpo. Também querias mais.

terça-feira, abril 20, 2010

Pedi-te que saísses com descrição do prédio, não queria que te vissem - especialmente o Miguel... Que explicação teria para que saísses de camisa em punho e peito ainda suado, de minha casa, que quase partilho, paredes meias, com as dele? Não demoraria dois segundos a perceber que aqueles gritos, os risos, os gemidos, eram os teus.
Olhaste-me como se te usasse mas sei que não estiveste comigo esta noite. Outras curvas, outros olhos toldavam-te a mente [e tu achas que eu não te conheço?] mas às vezes, sexo era só sexo e quis-te mostrar que hoje, fizeste com que assim fosse.
Estava cansada de tanta noite de suor desmedido sem um beijo doce pela manhã, mas não era isso que queria para mim. Ia parar. Ia parar com as noites de perdição contigo e com ele, o stress absoluto para que nenhum soubesse de como o outro me fazia gemer.
Pensei em escolher... mas como? Tu com o teu corpo de deus grego [que maior cliché, mas a verdade é que ninguém saiu melhor esculpido], ele com as palavras e um olhar que me deitava por terra e me deixava a pedir [implorar, lembras-te Miguel? Não seria a primeira vez...] por mais...
Por isso ia parar. Para já, só queria parar...

sexta-feira, abril 16, 2010

Regresso a casa

Enquanto caminhava em direcção a casa, pensava no banho quente que iria preparar. De repente, começou a chover torrencialmente e nem a corrida afogueada e extenuante a salvou de abrir a porta já com o cabelo a pingar. Do outro lado, alguém esperava impaciente o elevador.
Os seus olhos cruzaram-se. Não se viam desde daquela tarde em que Letícia o tinha deixado sentado numa cama abandonada. Ricardo esforçou-se por parecer descontraído, ia visitar o amigo de longa data que tinha na casa em frente à de Letícia. 
- Olá - disse-lhe num tom nervoso indisfarçável.
- Ah olá, Ricardo! - foi a resposta serena e aparentemente inabalável da encharcada Letícia.
Entraram os dois no elevador, o espelho embaciou-se: ela tinha chegado com a chuva na roupa e o calor na pele. Ele tentou manter a respiração compassada e calma. Sentia as mãos dormentes e uma vontade absurda de lhe agarrar na cintura e lhe largar beijos no pescoço.
Letícia aproximou-se da porta, Ricardo aproximou-se dela sem lhe tocar, sussurrou-lhe ao ouvido. Ela estremeceu, não pelas palavras que ouviu mas pelo pulsar dos lábios tão próximos do seu pescoço.
Virou-se, repentinamente, e surpreendeu-o com um beijo que o encostou a um dos cantos do elevador. As portas abrira-se quase no mesmo minuto e ela saiu sem olhar para trás. Foi rápida a abrir a porta de casa e entrou. Respirou fundo. "Ainda bem que não passou disto" pensou. Pouco depois ouviu a campainha da porta da frente e os cumprimentos dos dois amigos. Perguntou-se se o Miguel saberia de alguma coisa sobre ela e o Ricardo, afinal de contas eles eram tão amigos...




quinta-feira, abril 08, 2010

Tarde sagrada com o pecado na mente

Levantei-me e desta vez consegui sair do teu ninho. Roubei-te uma t-shirt antiga, e desci, descalça, até minha casa. Vesti uns calções justos [aqueles que tu adoras sabes? com os quais me fotografas sempre...] e fui correr. Precisava de suar o que tinha de teu em mim. Precisava de sentir algo que não as ondas que me provocavas e me subiam a coluna, arrepiando-me.
Suei uma vida, duas noites de sexo, muitas fantasias. Sabes como gosto de correr de cabelo ao vento e peito firme, seguro. Sabes como me sinto depois de correr, suar as noites de sexo que temos em segredo. Voltei a casa e pus a água a correr. Ouvia os vizinhos do direito a fazer sexo. Ela batia com a cabeça na parede e gemia e quis ter-te comigo, comer-te outra vez. Delicioso. Poderoso. Meu. Arrepiei-me e enfiei-me no duche. As altas temperaturas, o vapor convidavam-me a ficar e conhecer o meu corpo mas adiei o toque e pus um fim ao auto-conhecimento. Hoje encontravamo-nos na igreja. Podiamos fazer dezenas de piadas com a nossa presença ali, num sítio sagrado onde só o pecado nos vinha à mente.
Entrei na Igreja e tu já lá estavas, camisa aberta a três quartos, a pele morena, arrepiada quando olhaste para mim. Preto. Eu vinha de preto. Maquilhagem esforçada, que o suor esborrataria mais tarde. A cerimónia decorreu, cheia de palavras sacras mas nós estavamos longe. Tu, sentado no banco atrás de mim, nós atrás de todos os outros. Sussurravas-me na nuca e eu estava mais acesa do que nunca... cruzei as pernas para que parassem de tremer. Esperámos que saíssem, alegámos que precisavamos de um momento. Para nos dedicarmos a algo...divino: nós. Nús.
Seguiste-me até ao confessionário e se pudesses pregavas-me as mãos por cima da cabeça. Com força, mantiveste-me assim, presa e beijaste-me o corpo.Ficaste de joelhos e esperaste que me juntasse a ti. Sentei-te no banco e tomei o meu lugar no teu sexo. O velho banco de madeira rangia e o som só me fazia acelerar o movimento, desejar-te mais dentro de mim.Arrastaste-me até aos degraus que nos levavam ao altar e os reflexos de cor dos vitrais no meu peito acenderam o animal em ti. Viraste-me de costas com brusquidão e deixaste-me de joelhos apoiados no chão e a minha traseira suada junto à tua frente definida, erguida. Enrolei os meu braços no teu pescoço, seguraste-me o peito com uma mão, o cabelo com a outra. Mais uma vez doía, como doia sempre que estava contigo. Mas não parávamos, nunca, não tão perto da melhor parte. Aceleraste o ritmo e tive de me morder para não gritar, uma, outra e outra vez. Cravaste as unhas na minha cintura, deixando-me saber que te aproximavas do fim. Fui lá contigo e gritei. Um grito suado, ousado, abafado... pelo grito do sino da Torre da Igreja de vidros embaciados.

domingo, março 21, 2010

The Morning After

Acordas-me ao libertares o teu braço de mim. Abro os olhos estremunhada e vejo-te num espreguiçar lânguido e delicioso: o teu corpo moreno recortado contra o lençol de cor viva, o meu, deixado ao saboroso abandono de uma manhã de fim-de-semana.

Sentia suaves dores por todo o corpo, sabia que ia encontrar nódoas negras em locais inacreditáveis dali a uns dias... e sabia que ia sorrir quando as descobrisse. Levantas-te e segues sorrateiro até à cozinha. Apercebo-me de que estamos em tua casa. A forma sôfrega com que me foste conduzindo pelas escadas até uma das portas no patamar não em deixou perceber se estávamos a entrar na minha ou na tua casa, nem me lembro de ouvir a chave na porta. Entras de novo no quarto a morder sedento uma maçã. Perguntas-me porque é que estava com uma expressão incrédula, eu sorrio e não te digo no que pensava. Aproximas-te carinhoso, onde estaria o feroz amante da noite anterior? O teu toque sedoso e delirante na minha pele amanhecida provocou-me um arrepio. Sorris, pousas a maçã na mesinha de cabeceira, não sem antes lhe cravares uma última dentada, deixando o sumo a escorrer pelo queixo. Delicioso e fresco.

Gentilmente, passeio a minha língua pelo teu pescoço, mordisco-te o ombro e aperto-te contra mim. Sinto a tua respiração ofegante na minha pele e o teus dedos firmes por todo o meu corpo. Mordes o lábio e olhas-me nos olhos de forma lasciva. Tocas-me, acaricias-me, provocas, sabes como reajo às tuas investidas nos meus mamilos e esforças-te ainda mais. Desces lentamente pelo meu corpo e consigo sentir o quente dos teus lábios aproximar-se cada vez mais das minhas virilhas, estremeço. Sinto a tua língua, os teus dentes, suaves, provocantes, deliciosos.

Não desistes até me sentires vibrante em doces ondas de prazer, não desistes até me levares onde queres, não desistes até me deixares sem respiração por momentos. Sorris e deitas-te ao meu lado, adoras ver-me corada e ofegante depois de um orgasmo assim. Devolvo-te o olhar e tu percebes que só tens de esperar que eu recupere as forças...

quarta-feira, março 17, 2010

Nunca fiz isto antes

Passaram-se meses desde a nossa última queca.
Deixei-me de rodeios - em palavras e memórias - e hoje preciso que me saltes em cima.
"Fazes-me falta, merda!". Odeio assumir que preciso da tua mão entre as minhas pernas mas já não me sinto como quando o fazíamos...Aproveito o turpor das memórias e deito-me na cama do meu quarto escuro e adormecido, os estores escorridos e a música que nos faz querer suar no tapete. Tu não estás mas não estou sozinha. A tua memória persegue-me e é como se estivesses no quarto...
Seguras-me o pulso atrás das costas e torce-lo. Doi-me, tu sabes, mas eu gosto (tu também sabes). E dobras e quase que o partes mas concentro-me no caminho que a tua outra mão percorre no meu corpo. Lombar, umbigo, desce a virilha e pára. Estou quente, quase febril e as tuas mãos são cubos de gelo, como tu, indiferente.
Encostas-me à parede e seguras-me, agora, os pulsos por cima da cabeça. Odeio-te mas quero-te demais e a tua invencibilidade complementa o three-some que desempenhamos hoje.
Começas a tua dança de homem que sabe o que quer e agarras-me o peito, és um polvo com mil mãos que invadem o meu espaço e perco-me do meu elemento. Estou nua, em ruína, presa entre ti e a parede e momento nenhum soube melhor.
Há tanto que não te disse, mas encaro-te e mordo-te o lábio. Sangras um pouco e riste-te. "Puta", dizes. "Estás a portar-te mal...".
Atiras-me para a cama e fazes-me tua. Eu beijo-te o corpo, agora mais quente e menos indiferente e agora mando eu. Estás sentado à beira da cama e enquanto te beijo amarro-te. Não dás conta, mas melhor assim, sei que vamos ter uma longa noite...O que fizermos hoje, nunca fizemos antes.

terça-feira, julho 14, 2009

Sentou-se na cama, ainda quente do torpor dos corpos. O quarto parecia-lhe enorme e tão vazio... Estava sozinho. O coração batia-lhe desenfreado no peito, o corpo estava dormente, e nada à sua volta fazia sentido. Um grito agudo trespassou os minutos, no quarto em vácuo. O telefone. A medo pegou-lhe e ouviu alguém alegre e cansado que lhe contava a jornada até chegar a Londres. Ana tinha ido em trabalho, um cliente importante... Ana, a mulher com quem tinha casado há uns anos atrás. Ana, a mulher que tinha estado afastada da sua mente durante as últimas horas, durante as últimas semanas.
Letícia tinha surgido de novo, a sua paixão de outros tempos. E agora ela tinha saído, altiva, com a certeza de que deixava para trás um homem perturbado.

Enquanto sorria, consciente dos estragos que provocava, Letícia dava as indicações ao taxista para a deixar em casa.

segunda-feira, julho 13, 2009

Arrependimento.

Ela sabia melhor, sempre soubera. Não baixava a guarda nunca, mas as recordações de outros tempos fizeram-na ceder. As recordações eram de tempos idos em que também sofreu mas disso nunca ninguém se lembra... E recordava os andares de mão dada, o toque dele, as mãos dele, o cheiro dele. Inconfundível.
Por isso, quando depois da noite em que secretamente foram um do outro, ele não deu notícias, não respondeu à sua mensagem e não voltou a ligar, Letícia pegou, pedra por pedra, e reconstruiu o muro.
Saiu à noite, com as amigas. Suou no ginásio. Comeu saladas e gelados. Bebeu cerveja, apanhou sol.
Por isso, quando depois da noite em que ele lhe segredou amores que não tinha ao ouvido, ele a voltou a ver, ela tinha pele e cabelo dourado do sol, olhos brilhantes e o que ele via era como se a visse pela primeira vez.
Por isso, quando depois de todas as noites passadas, pedra por pedra, a reconstruir o muro, Letícia seduziu-o. Mas não se deu.
Por isso, quando depois de saber que ele tinha alguém na sua vida de quem se despedia todas as noites com sorrisos, Letizia avançou e agarrou-lhe o cinto. Desapertou-o. Abriu um botão, outro e mais outro. Deixou que as calças lhe caíssem e puxou-o para si. Sentiu-o duro, forte, mas doce por dentro, como se o veneno que ela sentia hoje por ele lhe escorresse pela garganta e o fizesse amarrar àquela sereia.
Letícia sentia-se perigosa. A chama que provocou demorou a queimar, mas Letícia não esmoreceu, nem derrubou. Continuou as sua dança perigosa, com as mãos dele no seu peito, e as dela por cima, como quem grita controlo. Satisfez a sua raiva naquela, hoje, abjecta pessoa que tanto queria mas a quem nada podia dizer. Usou-o por desfeita, por rancor. Hoje ela dormia sozinha, mas ele dormia pior.
Por isso, depois de satisfeita fê-lo vir. Desceu da cama e vestiu o vestido que se colava agora à pele tranpirada. Ele, extasiado mal se apercebeu que Letícia estava saída e foi à casa de banho passar um refresco pelo rosto, recuperar a pulsação, respirar de novo, sem sofreguidão.
E por isso, quando regressou estava sozinho num quarto cheio de um silêncio que o esmagou.

sexta-feira, maio 29, 2009

Aquele encontro inesperado...há muito esperado

Letícia caminhava distraída, a mente divagava entre os contornos do fim de semana e as tarefas planeadas para aquele dia. E de repente, num olhar desatento, encontra uma cara familiar... Ricardo.
Ele também a viu. Assim, sem pré-aviso e sem filtro, sentiu os pulmões apertados e não conseguiu evitar um sorriso. As palavras enrolaram-se na garganta, num angustiante atropelo de hesitações, e as mãos ficaram frias e a suar, num conjunto de sensações que provavam a indiferença impossível em relação a Letícia.
Também ela percebeu que aquela paixão de infância não tinha esmorecido. O coração acelerado e a pele em em alvoroço eram apenas alguns sinais da atracção que ainda sentia por ele. Cruzaram-se e falaram. Num convite para um café, ficaram lembranças revisitadas e sentimentos recuperados por instantes.
.....................................

E num impulso Ricardo arrastou-a para sua casa, vazia, livremente auspiciosa, e envolveu-a em si. Queria matar saudades, aproveitar tudo o que não tinham aproveitado em tempos mais inocentes... e, apesar da resistência, Letícia acabou por ceder ao homem que sempre desejou em segredo. Deixou-se levar pelo momento, quase com vontade de o provocar, recuperando a inocência há muito perdida. Mas já estava cansada de esperar, queria-o e queria-o já, "de um querer bruto e fero" como um dia escreveu Almeida Garrett.
Ricardo não se demorou a arrancar-lhe a roupa já de verão, ela beijou-lhe o pescoço com languidez. A língua lasciva de Letícia percorreu a pele do corpo másculo e bem delineado que tinha à sua frente, provocando-lhe arrepios. Ele segurou-a com firmeza pela cintura, apertou-a contra si, sentiu-lhe o bater do coração. Sentiu-lhe o calor e, a cada investida, Ricardo excitava-se mais ao ver as faces de Letícia coradas de prazer. Imaginava-a na pele da menina ingénua e inocente que não tinha tido oportunidade de provar, ao mesmo tempo que se agarrava ao corpo de mulher. Tão sensual e tão quente.
Os sentidos entrelaçados, sensações inesperadas e um desejo quase tangível que os acompanhou até a tarde acabar e a vida reclamar o regresso.

Noites quentes de saltar de parapeitos

Chegou por detrás dela e cheirou-lhe o cabelo. Puxou-os um pouco, gostava de a controlar. Usava a vantagem do tamanho que tinha, em tudo. A mão dele, enorme, rodeava-lhe a cintura e vincou os dedos na silhueta feminina, que lhe enebriava o espírito. Ela, encostada à janela bebia de um cálice de base desgastada, das lavagens, doutras noites, outros amores. Aproximou-se mais. Ela sentia-o cada vez mais, cada vez maior. Ele sabia o tempo que demorar para crescer nela o desejo de o ter e isso agradava-lhe.
Com os joelhos, afastou-lhe as pernas e deixou-se ficar. Ela tremeu. Os seus lábios percorriam-lhe o pescoço e a cabeça dela cedia, descontraindo e caindo apoiada no seu ombro, onde já chorara, noutras noites, noutras viagens. As mãos dela pararam no rabo dele, à medida que as mãos grandes lhe percorriam o corpo, começando pelo peito desenhado na perfeição, cobiçado por todos, tocado por apenas um. Naquela noite.
Sentia-se vulgar por vezes, quando, com fulgor, ele a virava contra si, indefesa. Mas o prazer da caçada tirava-lhe o poder com o qual dominava todas as facções da sua vida. Hoje queria ser ela a presa.

Abri-te as pernas e gemeste de surpresa. Querias ser minha, senti-o nos teus lábios trémulos quando me pedias mais sem o fazer. Fiz do teu umbigo o ponto de partida e subi, conhecendo cada centímetro da tua pele morena, quente, arrepiada. Agarrei-te o pescoço e empurrei-o para trás. Gostas quando tomo a dianteira. Gostas que seja bruto e te controle, que te faça subir. E descer. E subir. Para que desças fulgorosa outra vez e comece a tua dança no meu corpo, também trémulo de cansaço, desejo, prazer.

Respirava mal mas não era a tua mão no meu pescoço. Eras tu a conhecer-me, a fazeres-te convidado em mim. E eu só queria dançar como um, sentir o harfar do desejo e dançar ao som do desespero que era estares dentro de mim. E tu dançavas bem, semi-nú meio sem jeito com calças pelos tornozelos e eu de saia arregaçada contra um parapeito baixo demais. Gosto do risco. Faz-me querer saltar. Saí de ti e afastei-te de mim. As calças dificultaram-te a passada e caíste na cama, em câmara lenta, sensual. Liguei a câmara. E a dança recomeçou. Uma. Outra. e outra vez.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

46 - Sunrise

Conversaram durante horas e, apesar de sentirem a temperatura descer, não tinham vontade de terminar a noite.
- Pequeno almoço em minha casa?
Desafiou Letícia, com um sorriso algo provocador. À defesa, João respondeu com outra pergunta:
- O que é que tens para me oferecer?
- Uma enorme variedade de iguarias que prometem aguçar o teu paladar e deixar-te plenamente satisfeito, ainda antes do amanhecer!
Riram e encaminharam-se para o carro do João. Quando chegaram a casa da Letícia ainda era noite, ela fez café e torradas.

A conversa parecia ter chegado a um fim. O silêncio agora imperava, entre o café quente e deliciosas torradas, as palavras desfizeram-se em sorrisos e olhares envergonhados. Ele inclinou-se, tentando alcançar um guardanapo, Letícia não se desviou e João conseguiu tocar os seus lábios pela primeira vez nessa noite.
O que se seguiu foi pura magia da atracção, carícias, beijos, toques inocentes que despertaram as mais violentas reacções. Enlearam-se nos lençóis beges da Letícia enquanto o sol nascia, o calor inundou o quarto e conduziu-os a um sono reparador.
Quando acordaram, Letícia estava envolvida nos braços de João e sentiu-o beijar-lhe o cabelo antes de ouvir um "Bom Dia" sereno. Por momentos temeu que ele se fosse embora rapidamente, mas as intenções de João eram outras. Começava a gostar daquela mulher sorridente e arisca...

segunda-feira, outubro 13, 2008

45 - Reencontro

Era o Ricardo. Ali, no crespúsculo de uma noite abandonada aos amigos. Letícia esforçou-se por manter o controlo e esquecer aquele momento. Já não o via há muito tempo, era alguém que talvez não quisesse voltar a ver. Sacudiu a cabeça e afastou-o do pensamento.

Seguiram para o bar e à terceira bebida, Letícia viu faíscarem no balcão uns olhos verdes profundos. Patrícia também se apercebeu e levantou-se para cumprimentar o ex-colega de faculdade. João estava descontraidamente a conversar com um outro rapaz, colega de trabalho, com o qual a Patrícia pareceu momentaneamente encantada. João deixou-os a sós e aproximou-se de Letícia, sorriram e embrenharam-se numa conversa divertida sobre encontros passados e a noite presente. Inconscientemente sabiam que na manhã seguinte iriam acordar nos braços um do outro.

O colega do João tinha vindo com ele e ao sairem do bar, Letícia e Patrícia aproveitaram a boleia. Mais tarde e já a sós, João e Letícia foram dar um passeio pela praia...

segunda-feira, junho 30, 2008

Luísa ajuda - 44

- 'Tá Marta? Olá! Olha A Patrícia ligou-me é para irmos jantar lá a casa hoje! Liguei ao Gabriel e ele pode levar-nos...Sim, ele leva a nova namorada...ahahaha..não sejas má! Ele leva-a mas tem espaço para nós, passa por aí às oito?...ok já lhe mando uma mensagem. Beijo!

E agora o que vestir? Provavelmente não haveria nada de anormal naquela noite mas ela queria estar bela, sensual até. Optou por um vestido simples, verde escuro de corte ousado mas longe de ser ordinário.

O jantar correu sem sobressaltos, a Luísa foi apresentada de forma pacata e só no avançado da noite, é que começou a conhecer a natureza alegre e despreocupada das amigas do seu amado.

Estavam a dirigir-se para um bar que o Gabriel queria dar a conhecer a todos, quando Letícia estacou. No seu olhar viam-se veios de gelo, nas suas mãos sentia-se o torpor de quem decide desistir. A Luísa foi a única a notar o súbito atraso da Letícia e, com serenidade e discrição, fez por perceber o que se tinha passado. Rapidamente encontrou o objecto de preocupação para Letícia. Era alto, moreno, aparentemente inofensivo. Luísa considerou até que não se destacava na multidão, pelo que percebeu intuitivamente que havia um historial com a sua nova amiga que ela não conhecia.

Letícia engoliu em seco, a garganta apertada, obrigou-se a recompor-se e trocou um olhar de agradecimento com a Luísa.

domingo, maio 25, 2008

Regesso do pijaminha - 43

Passou pela dona Isabel ao entrar no prédio, cumprimentou-a e seguiu.Subiu as escadas num passo pesado e arrastado. Cansada. Ao chegar à sua porta reparou imediatamente num embrulho de papel reciclado, enleado com fita vermelha. O bilhete estava entreaberto. Letícia hesitou, pegou-lhe com cuidado e leu de um fôlego só.

Seria possível? O pijaminha?
Pegou cuidadosamente no embrulho e levou-o para dentro. Sentou-se na poltrona e com desenlace nos dedos abriu-o. Ali estava ele suave, azul. Letícia suspirou e inalou um subtil aroma a lavanda. Está lavado, pensou. Mas já não tinha o cheiro dela, sem pressas decidiu voltar a lavá-lo - não fazia ideia de onde teria estado o pijaminha e não queria pensar nisso. As possibilidades que lhe asssomavam a mente provocavam-lhe arrepios.

domingo, maio 04, 2008

Desaparece - 42

Não percebo porque me irrita tanto este querer, este desejo que me amolga o andar e me faz suspirar apertada. Não entendo esta urgência dos teus braços que amordaço com os lábios quentes de outro alguém. Vou tomar banho, lavar o teu olhar de mim, arrancar as tuas palavras dos meus ouvidos. Escolher um canto para te esconder e nunca mais te encontrar. Porque preciso mesmo disso. Ai Miguel...desaparece. Deixa-me o vazio com que aprendi a sorrir e que agora tu não sabes como preencher. Habituei-me à tua pele, ao teu sabor e sem saber perdi-me no desejo que cega e faz tremer os joelhos.

As horas que partilhei contigo, num envolvimento que nunca soube como definir, passeiam-se na minha mente nos minutos ociosos...

A mesma dança repetida em mundos diferentes, em segundos diferentes, em escalas de intensidade diferentes. O sal da minha pele no sabor dos teus beijos, o calor do meu corpo entre as tuas mãos. A tua respiração ofegante e o meu coração acelerado. Uma dança descompassada perdida nos beijos acalorados. O pé a pisar o céu do abismo, o mundo a fugir-me das mãos, a tua respiração entrecortada no meu ouvido e o meu calor no teu corpo escaldante. A tua pele por baixo das minhas unhas e as tuas mãos a agarrar firmemente a minha cintura. Os gemidos que não consegui calar...e que te fizeram estremecer.

Agora apaga isto de mim para que te possa esquecer.

quinta-feira, abril 17, 2008

Regresso - 41


Ricardo estava calmo, tinha os movimentos calculados. Nada iria falhar, tinha que se desvincular daquele objecto e principalmente da sua dona. Abriu a gaveta mais próxima do chão e procurou entre os seus pijamas e os da sua mulher a peça de roupa que mais o tinha feito suspirar. Pegou nele, azul suave, inocente e ingénuo à primeira vista, mas tão sexy ao toque e tão indecentemente lascivo. Passou largos minutos a embrulhá-lo em papel reciclado, bege morto que em tudo contrastava com o poder do pijaminha. Escreveu algumas palavras numa letra desenhada com cuidado, não queria ser reconhecido.
Saiu de casa, consciente que Letícia estaria no trabalho àquela hora, tocou à campainha e pediu à Dona Isabel para poder deixar o embrulho à porta da inquilina. Ricardo subiu as escadas e pousou cautelosamente o embrulho na soleira da porta de madeira. O bilhete ligeiramente aberto:

"Devolvo-te a pele que te falta, perdoa-me o desejo incontrolável que me fez levá-la para longe de ti."

quarta-feira, abril 16, 2008

Entrou de mansinho na casa adormecida. O aroma a refogado passava já da porta e não se espantou por encontra-la aberta. Melhor, pensou, menos esse constrangimento.
Ninguém a esperava ou surgira para a receber. A comida, a apurar em lume brando, acelerava as paixões que fervilhavam em ambas as divisões. A mesa estava posta para dois, o vinho verde gelado suava ao calor que as velas vermelhas emanavam ao seu lado. Olhou-se no espelho e sorriu de satisfação. Era uma mulher bonita. Ao som da música que tocava baixinho descreveu movimentos sensuais com o corpo ondulante, como quem faz amor consigo mesmo. Sentia-se bem. Sentou-se na cadeira que lhe estava destinada, e aguardou.

Chegaste pouco depois, de barba por fazer [sabes bem, Miguel] e camisa meio aberta, deixando a descoberto o peito que o teu coração fez crescer. Trazias uns calções de Verão, revi-te na esplanada comigo, tardes de verão e marisco, eu a rir e cascas no meu cabelo. Tu rias também, tiravas-mas e roçavas a mão suja pelo meu rosto. Riamos os dois, idiotas apaixonados, ou assim queríamos crer...

Sentados à mesa, o vinho levou o embaraço, trouxe o riso solto e sincero. O cabelo ondulado dela brilhava mais com ele por perto, e não podia deixar de o tocar, de se tocar quando ele era a pessoa que lhe devolvia o sorriso para lá da mesa.
Aos poucos, poucos mais de dois centímetros, um, nenhum intermediavam aqueles dois. Os seus lábios carnudos tocavam o pescoço dela e a sua barba de três dias [bem sei que é assim que gostas] chamavam arrepios que ela tentava esconder. As mãos dela tocavam-lhe as coxas, apertavam-nas ao ritmo dos beijos dele que lhe desciam agora pelo decote.
O comer arrefecia nos pratos, o vinho há muito que acabara e a roupa de Letícia aproximava-se perigosamente do chão da sala. Já no sofá, arfavam os dois, amantes inconfessáveis e eternos [como me livro de ti, Miguel? Faz-me não gostar de cada beijo, conseguir não caber no teu abraço…] mas ela mascarava bem as dúvidas que lhe assolavam o coração e tomou a dianteira. Trepou-lhe o corpo moreno e delineado e beijando-lhe o peito fez descer a camisa até ao chão. Agilmente escorregou a mão em direcção ao pecado e com um só movimento desapertou-lhe o cinto e o botão dos calções. Visivelmente inebriado, Miguel tenta alimentar o desejo daquela fogosa mulher. Inverte a situação saltando-lhe para cima e arrancando-lhe a blusa que escondia os mais bonitos e reais seios em que já tocara. Ela, arrepiada, fazia-o subir e descer ao ritmo da sua respiração ofegante de prazer. Suada ficava mais bela, [és tão linda, não tens noção…] faces ruborizadas com a mão dele entre as suas pernas, não se inibia de soltar um gemido. Despidos de roupa, medos, memórias de um passado recente em desilusão e saudade, tremiam em síncope de misto de dor e prazer entorpecidos pelo calor que provocavam juntos. Ela, de novo por cima, balançava as suas ancas para a frente e para trás, num movimento febril e compassado, e pegando nas mãos deles pousa-as sobre o seu peito. O seu coração batia veloz, à medida que ela aumentava o ritmo, acelerava o passo. E balançava, portentosa, dona de si, mulher de paixões, à medida que os dedos de Miguel lhe vincavam a cintura, cerrados pelo tamanho deleite.
Assim se mantiveram, escravos do prazer até que o corpo humano cedeu, até que Miguel se deu. E deitados, esgotados, foram reacendendo uma paixão difícil de controlar, nas cinco vezes seguintes que, naquela mesma noite, se tornaram, fisicamente, um só…

terça-feira, abril 15, 2008

Era ela - 39

Chegara mais um fim de tarde, mais um pôr-do-sol se aproximava. Quase sem hesitar ligara-lhe:

- Estou, Miguel?

- Olá...

A voz falhou-lhe ao perceber que era mesmo ela. Assustava-o a forma como a sua mente se prendera àquela morena de corpo esguio.

- Tudo bem? Hoje sonhei contigo...

Assim. Quase fria, quase atrevida. Sem meias-medidas. Surpreendeu-se com o seu próprio à-vontade.

- Ah foi? E foi um sonho bom?

- Hum...foi óptimo, eu diria, para o teor quente que tinha...

Ele sorriu silencioso do outro lado.

- Conta-mo!

- Nah! Quero realizá-lo...

Era esta audácia que o apaixonava.

- Parece-me boa ideia!

- Que tal esta noite?

- Ah! Não posso, tenho um jantar de amigos...

- Perfeito!

Ele ficou desorientado.

- Ãnh? Mas...não posso!

- A que horas sais de casa?

- Lá p'rás 20h30...

- Óptimo, lá estarei!

- O quê?! Letícia...!

Mas ela já tinha desligado. Ele pousou, atónito, o telemóvel e sacudiu a cabeça incrédulo.
Do outro lado ela sorria, num misto de espanto e satisfação. Só queria saber se teria coragem para ir até ao fim...

segunda-feira, abril 14, 2008

Sonho - 38

Chegou a casa cansada, depois de uma noite acalorada entre lençóis ia ser bom descansar. Entrou discretamente, não percebeu porquê mas queria evitar que o Miguel a visse...Deixou cair as chaves no móvel da entrada e proseguiu largando o casaco e a mala num dos cadeirões. Estendeu-se no sofá e aninhou-se, alcançou o comando da aparelhagem e ligou-a. Deixou a música preencher o espaço e sem pensar em nada adormeceu.

De repente estava numa casa diferente de todas as que conhecia, num quarto escuro em tons vermelhos. Sentada na cama, envergava uma lingerie escura com pormenores inocentes mas extremamente sexy's. Ouviu o trinco da porta e sentiu-se sorrir, Miguel entrava distraído, de toalha à cintura, ainda quente e molhado do banho. Espantou-se ao perceber que não estava sozinho, sorriu mas esforçou-se por não perder a pose, disse:
- Olá, estás muito bonita...mas agora não posso, vou sair. Fica para outro dia...
Letícia sentiu os seus olhos faiscarem, levantou-se e a sorrir lascivamente empurrou-o para cima da cama. Abanou a cabeça e prometeu-lhe que ele não sairia dali antes de a satisfazer. Miguel tentou ser forte e negar, mas a sua excitação já era evidente através da toalha branca, na verdade só a visão da sua vizinha naquele conjunto tão sensual já tinha feito estragos. Ela beijou-o de forma ingénua e calma, desceu pelo seu pescoço, mordendo suavemente o seu ombro...passeou a língua pelo seu peito e agarrou a toalha com os dentes, abriu-a e sorriu provocadoramente enquanto o apreciava.
Ele respirava com dificuldade e agarrava a colcha na cama para manter o controlo, Letícia levou-o ao extremo, ao limiar do abismo vezes sem conta...até que ele a travou. Sentou-se e obrigou-a a tombar sobre a cama também, desta vez foi ele quem se divertiu na pele dela. Ela sorria, satisfeita e poderosa, consciente que teria deixado outra rapariga qualquer à espera daquele homem que não ia chegar tão cedo.
Depois de lhe ter arrancado a lingerie Miguel soube explorar cada centímetro, levou-a a contorcer-se descontroladamente duas vezes e quando já se sentia louco de desejo, penetrou-a suavemente sentindo-a como sua. Letícia entregou-se ao prazer mais uma vez e de unhas cravadas no ombro do Miguel não conseguiu calar um gemido que o fez perder o chão...


Letícia acordou afogueada com um feixe fraco de sol a iluminar-lhe o rosto. Sorriu espantada e percebeu que ainda envergava o vestido vermelho. Levantou-se e foi tomar banho para depois preparar o jantar. «Sábado ocioso» pensou.

Só mais um - 37

Fora um encontro como outro qualquer.
Um rosto conhecido, bonito, com a barba de três dias, que ela tanto gostava.
Um corpo musculado, suado pelo desejo, jazia agora em arfado cansaço, depois do melhor sexo da sua vida com alguém que já tivera melhor.
Tenho de parar de fazer sexo porque sim..., pensava Letícia. Hoje tivera de pensar onde estava ao acordar e detestou a sensação. Os lençois não eram seus, nem tinham sido lavados por si. A vista não era aquela a que se habituara a cada manhã e neste apartamento não estava sozinha.
Não querendo melindrar aquele cujo rosto ainda marcava um sorriso pateta típico de miúdo bonito que sai poucas vezes, Letícia vestiu silenciosamente a lingerie que comprara no dia anterior, e num movimento rápido e pragmático enfiou o vestido vermelho que tanto pecado gerara. Tenho de o usar mais vezes, pensou, sorrindo.
Agora, Miguel.
Bem, amanhã penso nisso.

Magia - 36

Podia parecer incrível, mas a verdade é que não o via fazia tempo que nem ela sabia já contar. Moravam no mesmo prédio, seria possível que estivessem assim tão destinados a não se encontrar? Estava cansada de sentir que o chão lhe fugia quando horas corriam e não deixava de pensar nele. Habituara-se à sua permanência e parecia custar menos tê-lo sem o ter na realidade, a não ter ninguém que a enchesse de memórias e arrepios passados.
Envolta em pensamentos passou a caixa do correio, entreaberta, sem sequer se interrogar o que seria aquele bilhete pequeno, amachucado, qual recado de criança em plena escola primária. Envolta em pensamentos mantivera o telemóvel em modo silencioso, negligenciado a sua mensagem que aguardava uma resposta que ficara muda.
Do outro lado ele roía as unhas, passava as mãos pelo cabelo, em jeito de ansiedade. Porque não me respondes Letícia...?, questionava-se, irrequieto.
Chegaram as oito. No bilhete, ainda bem dobrado dentro de uma caixa de correio esquecida, estava combinado o encontro ao qual Letícia se preparava para faltar, sem saber.
Miguel entrou no prédio e mesmo sem mudar de roupa dirigiu-se a um apartamento que não era seu.
Pousou, leve, a sua pesada mão sobre a porta. Sossegada estava a casa que muito já vira sem que pudesse contar. Encostou o rosto quente de temor à porta que guardava a mulher que mais o fizera suspirar, por mais silencioso que batesse o seu coração.
Nisto a porta abre-se e Miguel quase cai no seu decote. Letícia ali estava, pronta para alguém que não era ele, com um tom de pele quente e bronzeado e um vestido vermelho vivo que mal o deixava respirar.
-Podemos falar?, soltou
-Agora? Miguel, tenho um compromisso.
-Sim, é comigo!
-Não, não é contigo, mas que raio, apareces aqui sem avisar, e partes do pressuposto que temos um compromisso? 'Tas doido?
-Ammm mas... eu deixei-te uma mensagem, tu não respondeste.
-Ah, hum... uma mensagem?, pergunta num misto de espanto, embaraço e uma alegria inconfessável. Mas não. Hoje não ia vacilar.
-Bem, vai ter de ficar para outro dia, agora já estou atrasada.
E fechou a porta a três centímetros do seu rosto de homem de ego ferido e olhos de cachorro abandonado.

domingo, abril 13, 2008

Backseat - 35

Ele ainda lembra uma das noites em que saíram juntos.

Ao chegarem a casa ele impediu-a de sair do carro, aproximou-se cuidadosamente dos seus lábios e beijou-a. Rapidamente a fez passar para o banco de trás e entre beijos e carícias Miguel soube perder-se numa pele que não era a sua.
Letícia deixou-se levar sem cordas que lhe amarrassem a alma e o desejo.
Os beijos sôfregos a deixar os lábios dormentes e a pedir por mais, as mãos de Miguel quentes, provocadoras - que lhe ofereciam arrepios pelo corpo todo. A sua respiração ofegante e entrecortada no ouvido dele, estímulo ao qual ele não era capaz de resistir.
Apertada entre uns braços calorosos sentia-se confortável, desejada. A sua pele escaldava, limite suave de um desejo quase incontrolável. As mãos dele, ariscas, atrevidas a procurarem a pele nua, a percorrerem-lhe as costas com astúcia e a deixar Letícia rendida a todas as sensações.
"Loucos" repetia ela ao ouvido de Miguel enquanto sentia cada vez mais necessidade do corpo dele. As peles misturadas, as mãos unidas. As bocas entrelaçadas em beijos infinitos.
Letícia prendeu-lhe as mãos paralelas à cabeça, impedindo o seu toque irresistível e provocando-o, doce tortura acompanhada da sua língua lasciva a percorrer-lhe a pele do pescoço. A cada investida ela sentia-o apertar-lhe os dedos num pico de prazer e a cada arquejo ela imergia um pouco mais no mar de desejo que os envolvia....

Um som ensurdecedor arrancou-o das suas memórias, era o telefone a tocar. Seria ela?

quinta-feira, abril 10, 2008

Chocolate - 34

Dois meses. E o sabor dele continua na minha boca. Porquê?De vez em quando vem perturbar-me os pensamentos sem razão. Oh vá lá...não tens razão nenhuma para lhe ligares..está mas é quieta! Sim..e se lhe ligasses o que é que lhe dirias?
"Ah olá Miguel, sou eu...'tá tudo bem contigo? ...sim? Comigo também! Pois é porque hoje não me sais da cabeça e eu queria mesmo entrar-te pela casa a dentro e encostar-te a parede com beijos sôfregos e violentos...sim,sim...e arrastar-te para a cama e comer-te como se fosse a última vez!"


Oh por favor...és tão patética. Esquece-o de uma vez por todas....
Já sei! Vou sair..vou ligar à Patrícia e à Marta e convidá-las para sair comigo...vamos à caça! Sim, tenho que encontrar uma distracção!

Se ao menos ele não me deixasse assim, se ao menos eu não ficasse a fantasiar com os beijos e as carícias...se...oh vá lá. Pára com isso!

Chocolate, vou comer chocolate. Ná...tu não estás apaixonada por ele. Vá lá cala-te.Que parva. Chocolate.Chocolate.Chocolate. Só eu e chocolate.

sábado, março 29, 2008

33 e o misterioso joão.

Lembra-se como, na primeira noite que o tinha visto, ele a agarrou e a encostou à parede fresca numa rua qualquer. Aproximou os seus lábios de pecado dos delas e sentiu-a estremecer. Ela fugiu, a noite tinha acabado por ali, nem um beijo...mas o desejo de tanto mais debaixo da pele.

Tinha acabado de pousar o telefone, ía vê-lo outra vez. O nome dele: João. Nunca lhe tinha tocado os lábios mas aquele moreno de olhos verdes tirava-a do sério.

Depois de um jantar com amigos comuns, que nada sabiam da sua história, seguiram a pé para um bar, caminhavam lado a lado cúmplices de secretas fantasias. O luar provocou as brincadeiras e acabaram por se distanciar do resto do grupo, entre risos nada contidos e toques provocadores Letícia perdia-se nos encantos daquele rapaz de quem pouco sabia. O sorriso dele dizia-lhe que ía ser naquela noite que os seus sentidos se iriam misturar.

Num passo menos cuidado Letícia precisou de apoio para evitar uma queda, o clássico momento constrangedor em que o João soube o que fazer. As línguas dançaram como sereias num mar de paixão incontida, a pele suave dos dois aproximou-se e as mãos atrevidas do João provocaram arrepios na pele que ele tanto queria provar. Uma dança ao luar, uma mistura de sensações irrepreensíveis e incontroláveis. Passados cinco minutos de puro fogo, João chamou um táxi e levou Letícia para sua casa.

Lençóis escuros. Azuis, escorregadios...tão confortáveis. Deitou-a e suavemente despiu-lhe o vestido verde. Letícia tinha a lingerie preta que uma amiga lhe tinha oferecido num aniversário, simples mas muito provocadora. Beijaram-se mutuamente, ela votou o corpo ao abandono das carícias deste quase desconhecido. Entre arrepios de prazer conseguiu ter força para se virar e ficar por cima dele. Prolongou o seu sofrimento até ao extremo - gostava de ver o seu sorriso maroto quando estava a gostar. Quando terminaram os jogos atrevidos entre os dois e começou uma guerra libidinal o dia já amanhecia. Letícia apenas teve tempo para um banho e um táxi para casa antes de ir para o trabalho.

Quando chegou a casa passou pelo Miguel na porta da entrada. Sorriu e disse Bom Dia, sentindo os olhos cravados nas suas costas enquanto subia as escadas.

quarta-feira, março 12, 2008

32

A porta abriu-se sem que ele tocasse na maçaneta.

- Olá! Bom Dia!

Um arrepio profundo.

- Bom dia...

Ela seguiu caminho sem olhar para trás. Miguel subiu as escadas com as pernas a tremer.

Porque é que o teu morder de lábios não me sai da cabeça, miúda? Não me fazes bem, pões-me a alma em alvoroço e o corpo dormente. Mas quero-te tanto que chega a doer passar por ti e sentir o teu perfume inebriante...vá lá torna-te vulgar. E tens um andar tão sexy! Vês? Fico com as ideias desconexas quando passo por ti. E isto tudo só com um bom dia...estou perdido.

sábado, outubro 13, 2007

Cap. 31

Letícia ouviu a campainha tocar duas vezes. Largou a roupa que estava a arrumar e dirigiu-se à porta. Abriu-a lentamente e espantou-se.

- Olá - Disse Miguel com simpatia.

Ele está ainda mais bonito que da última vez pensou Letícia, no entanto a afastou estes pensamentos rapidamente e respondeu:

- Olá, entra...

- Não, deixa estar, só venho fazer-te um convite.

Um convite?hum...o que é que ele quererá?

-Ah sim? Então, de que se trata?

-Vens jantar fora comigo, hoje.

-Desculpa? Isso não me pareceu um convite....

Ele pegou-lhe na mão e aproximou-se para lhe sussurrar ao ouvido: "não aceito um não como resposta".
Ela sentiu o tom de desafio e, sem saber porquê, gostou.

-Às 8h venho buscar-te.

Piscou-lhe o olho e ela viu-o desaparecer atrás da porta da frente.


Tudo aquilo era estranho, nunca tinha saído com ele. No entanto, às 8h estava dentro do vestido preto sem saber o que pensar. A campainha soou. Ela abriu relutante e viu o Miguel que ela conhecia de blazer e extremamente apetecível. Seguiu com ele para o restaurante sem fazer objecções.
O jantar correu sem tumultos e pela primeira vez conversaram como bons amigos. Depois da refeição foram a um café e por entre risos e palavras soltas ele disse-lhe:

-Hoje vou roubar-te um beijo.

Ela sorriu e, não sabia se era do vinho branco ao jantar, estava a adorar cada momento.
Chegou a altura de ir para casa. Ele acompanhou-a à porta, esperou que ela a abrisse e disse:

-Gostei muito da noite...

-Eu também!- disse ela com um sorriso constante, viu-o despedir-se e dirigir-se à porta dele.

-Não te falta nada? - ela não podia aceitar que acabasse assim, só assim.

Ele virou-se, desenhara um sorriso maroto no rosto. Voltou para perto dela e pousou languidamente a sua mão na cintura bem delineada de Letícia. Inclinou-se com a certeza de que ela não resistiria.

Os seus lábios tocaram-se e as sensações que este toque provocou foram mais intensas do que ambos previram. Ele puxou-a para si com a vontade e o desejo na ponta dos dedos. Queria tocá-la, saboreá-la, sentir cada centímetro de pele estremecer de prazer nos seus braços. E sentir os seus lábios entre os dela, as línguas perdidas numa líbido quase incontrolável, tornava aquela situação difícil de aguentar.
Letícia sentiu que Miguel a conduzia para o quarto entre beijos sôfregos e gulosos.
Com suavidade, Miguel fez deslizar o vestido preto até ao chão, as suas mãos puderam assim deliciar-se com a pele que antes estava escondida.
Inesperadamente Letícia obrigou-o a deitar-se de costas na cama, trepou para cima dele, colocando estrategicamente o seu joelho entre as pernas dele, provocando-o. Aquela sensação de poder agradava-lhe.E era claro que ele também estava a gostar...

sábado, setembro 15, 2007

Parte XXX -30-

Na viagem de regresso vi-a morder, sub-repticiamente, o lábio inferior por duas vezes.

Não conseguia parar de a imaginar a caminhar languidamente na minha direcção.

- Não queres revelar nada sobre a surpresa?...Nem uma pequena pista?

- Nadinha...depois vês!

Quase tive que me conter para não exagerar na velocidade. Quando chegámos deixou-me abrir a porta e encostou-me à parede beijando-me com sofreguidão, as mãos a segurarem-me firmemente contra o espelho do hall de entrada.
A partir dali já sabíamos o que se ia passar...mas, subitamente, conduziu-me e atirou-me para o sofá da sala.

- Esperas vinte segundos?

- Vão parecer uma eternidade!...

Ela lançou-me um olhar maroto e sorriu. Fiquei a apreciar o balanço das suas ancas inebriado pela sua sensualidade...Sem saber o que fazer mantive-me na mesma posição até ouvir os seus passos ritmados a aproximar-se do sofá.

Ao levantar os olhos não estranhei a sensação de novidade, por muito que olhasse para o belo pijama o meu espanto não diminuía. Mas ainda assim havia algo de diferente, pela primeira vez aquela mulher à minha frente não me fez lembrar a verdadeira dona do pijama, sentia o meu pensamento afastado da Letícia e isso fez-me sentir bem.


Talvez fosse pelas meias de liga e os saltos altos...apesar de achar que não condiziam com o indecente pijaminha dava-lhe um toque estranhamente sensual, como se ainda houvesse muito para mostrar...e havia.

Levantei-me e quis tocar-lhe, acariciar-lhe a pele suave e fazer deslizar o algodão azul até ao chão. Porém, a Ana afastou-se de mim e fez-me um gesto para que me voltasse a sentar. Obedeci sem perguntas, recostei-me...e fiquei a vê-la despir o maldito pijaminha que já na carpete me soube revelar o tão esperado segredo. Uma lingerie preta em perfeita sintonia com o resto dos acessórios. Paralisei. Esqueci por completo toda a magia que um dia tinha reconhecido naquele pijama. O resto seguiu-se como eu tinha imaginado...ou talvez de forma ainda mais intensa.


E na manhã seguinte havia aranhões superficiais na minha pele e um chupão bem marcado no meu pescoço. E quando, ao passar pela sala, olhei para o pijaminha senti que era hora de ser devolvido.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Parte XXIX

Com toda a coragem que conseguiu reunir pegou no telemóvel. O gesto já fora repetido tantas vezes que nem pensou, das outras vezes tinha desistido antes que do outro lado o telefone tocasse. Desta vez não, iria até ao fim.

- 'tá? Olá...estás boa?

- Sim, e tu?

A voz dela estava fria e a dele trémula. Já esperava agressividade da parte dela, mas nunca previra o tom de desilusão que sentia naquela voz que já lhe sussurrara ao ouvido tantas vezes...Continuou apesar de todos os pensamentos lhe negarem a coragem.

- Estou bem...olha, queria explicar o que se passou no outro dia...

- Estás à vontade!

Ela provocava-o sem piedade. Era por estas atitudes que Letícia sempre fora um desafio para ele.

- Desculpa...não queria magoar-te ou ofender-te, de maneira nenhuma! Mas naquele dia eu estava extremamente cansado...não ia ser o mesmo, não conseguiria dar-te o melhor de mim...e tu sabes que não estás habituada a ter o mediano...

Desarmei-a, pensou. Pode ser que não faça muitas perguntas e que se contente com esta explicação. No fundo sabia que ela nunca iria acreditar naquilo, mas mesmo assim não desistiu.

- Hum...para a próxima lembra-te que tu até poderias ser "mediano" mas eu poderia ser extraordinária. Não tenhas tanta sede de protagonismo, 'tá?

A resposta não se fez esperar, seca. Ele forçou uma gargalhada e concordou tentanto fugir ao assunto.

Quando desligou o telemóvel ficou com a certeza que era ele que estava errado, ela podia de facto ser ainda melhor sem o pijaminha por perto...não tinha forma de saber, nunca experimentara! Sorriu para si e prometeu mentalmente nunca voltar a cometer tal erro.

quinta-feira, julho 26, 2007

Tentação ( parte XXVIII )


Os olhos impecavelmente delineados a preto, as pestanas estendidas pretensiosamente na ponta das pálpebras, o verde espraiado na retina que me fitava. E sorria, aquele sorriso de quem sabe os estragos que provoca…tinha a pele beijada pelo sol, os ombros escuros e dourados, os lábios carnudos mas sem baton. O cabelo…ah! O cabelo caia-lhe em cascata pelos ombros e costas, as ondas negras conduziam ao decote generoso. Uma perdição e eu estava a ficar desorientado. Nunca a tinha visto assim, tão linda. Não a vira vestir-se por isso era uma surpresa redobrada vê-la tão produzida para mim..só para mim. Aquela mulher era uma tentação, a minha tentação.

E de repente lembrei-me da Letícia, ela nunca faria isto. Lembrei-me dos ombros morenos dela nos nossos tempos de adolescentes, os mergulhos divertidos na piscina municipal.

A Ana tocou-me na mão e fez-me voltar a realidade, pediu-me ajuda para escolher o menu e depois de ter falado com o garçon, virou-se para mim.

- Hoje tenho uma surpresa para ti.

- Uma surpresa? Hum…Não queres dar-me uma pista?

- Não…vais esperar até logo.

Sentia o coração bater mais forte só de imaginar a noite escaldante que se avizinhava. Não consegui parar de a visualizar com o pijaminha azul indecentíssimo a caminhar na minha direcção, os saltos ainda calçados. Tinha casado com uma mulher lindíssima.

Conheci a Ana na faculdade depois de ter acabado uma relação acalorada com a Letícia…E a Ana soube apagar tudo o que ainda me prendia à desafiante Letícia, ou pelo menos soube esconder tudo o que eu sentia ainda por ela.

Mas acabei por encontrá-la, sete anos mais tarde, quando fui a casa dum cliente. Era vizinho dela, fiz o possível e o impossível para que ela não me visse quando me apercebi de que era ela. O seu vizinho Miguel é neto de um velho magnata muito rico e o seu avô pediu-lhe ajuda com o testamento, queria um advogado para tratar das coisas. Mas numa das visitas que lhe fiz toquei no assunto da bela vizinha e fiquei ali, petrificado, a ouvir tudo o que ele sabia, sentia e queria dela. Nesse momento senti a inveja roer-me os órgãos internos mas aguentei-me…foi só quando ouvi falar no pijaminha que tive a certeza que ele teria de ser meu!...talvez para que também ela voltasse para mim.

Mas um misto de arrependimento e pena apoderou-se da minha mente naquela noite, a mulher que eu tinha escolhido para mim estava impressionantemente linda e eu ia aproveitar cada segundo. Já previa a continuação daquele jantar na minha cabeça, já quase era capaz de ouvir os gemidos dela, de sentir as suas unhas suaves deslizarem inconscientemente pelas minhas costas, já quase sentia os seus dentes cravados no meu ombro num culminar de sensações de prazer…Ela merecia-o e eu também.

Quando saímos do restaurante não conseguia pensar noutra coisa…foi quando reparei que, reflectida no tejadilho do carro, estava uma lua impecavelmente cheia.

Sabem o que dizem sobre a libido das mulheres em noites de lua cheia, não sabem?

domingo, julho 22, 2007

Parte XXVII

E agora?

Como dizer-lhe que tinha perdido o desejo...não, também não era assim...ela é tudo de bom...fico louco só de pensar naquele corpo...

Mas é difícil explicar, sem o pijama azul com ela, sinto-a tão vulgar....e naquela noite não quis levá-la para a cama porque não quis fazê-lo como uma obrigação, sei bem que não ia ser o mesmo, nem sei bem como tenho a certeza disto, mas tenho. O problema é que não há forma de lhe explicar isto, de a fazer perceber que gosto dela, mas que o pijaminha que ela tinha lhe dava um sabor diferente, exótico, irresistível...e que eu preciso disso para continuar a manter a chama acesa...

Amanhã ligo-lhe.

segunda-feira, julho 16, 2007

O número para o qual ligou não se encontra disponível. Deixe a sua mensagem após o sinal.


Estou?...Olá. Sou eu. Tudo bem? Bem, liguei para saber como estavas, não entendi o que se passou na outra noite, estavamos a ir tão bem e de repente foste-te embora. Tenho saudades tuas sabes?!Nossas...
Hm. Liga-me então quando... quiseres ver-me. Beijo.


E desliguei.

terça-feira, maio 29, 2007

Blog com Tomates


O blog O Avesso dos Ponteiros ofereceu-nos o prémio blog com tomates! isn't it cool?? obrigado!!!


Agora nós, suponho que estes serão as escolhas mais óbvias, mas colegas de blog se estiver errada censurem-me!!


Camisinha Xocolatxi


Horas e Horas


Pacote 33


Eu também falo com a Eliza


Empanicados


=)

segunda-feira, maio 07, 2007

Parte XXV

04h00, Casa da Letícia

Ela está sentada no chão da sala, o corpo encostado ao sofá azul. A mente cansada e confusa divaga...lembra momentos tórridos de uma noite sem fim.

Todo o clima de sedução, a música a funcionar como íman e a aproximar os corpos quase involuntariamente. O ritmo a sugerir movimentos sensuais...



Era uma noite como as outras, ela tinha saído para se divertir sem pensar em encontrar alguém que lhe aquecesse a alma e o corpo. Mas ele estava lá, o vizinho com quem já não falava há tanto tempo.



Aproximou-se como um desconhecido e sussurrou-lhe um “olá” familiar ao ouvido. O toque da sua respiração no pescoço dela foi o bastante para lhe provocar uma reacção acesa pelo corpo todo. Dançaram como cúmplices do pecado que inconscientemente já sabiam que iam voltar a cometer.



As mãos dele deslizavam com astúcia pela cintura dela e revelavam a arte de quem conhece a força do desejo. Os lábios sensuais encostados à pele quente e delicada do seu pescoço...e ela lembra os seus lábios sequiosos e palpitantes de cada vez que o calor dos corpos unidos a fazia querer mais.



Toques, beijos...como se fosse a primeira vez que se encontravam.



Mas havia algo de diferente, algo que faltava. Ao chegarem a casa, o desejo dos dois sabia o rumo a tomar...No entanto, ao entrarem em casa dela, ele parou-a e sem grandes explicações disse que não conseguia e desapareceu atrás da porta de sua casa.



Letícia revolvia as memórias sem saber o que pensar. Sem dar conta e sem perceber porquê lembrou-se de que alguém lhe tinha roubado o seu pijama mas não acreditou que tinha sido ele.

domingo, maio 06, 2007

A primavera chegara por fim e acordara-lhe os sentidos.
Ele ficara estranho contudo.
Desde essa fatídica noite de escaldantes roços no tapete quente da sala, ele parecia evita-la... O receio do toque, o beijo frio a medo, os olhares comprometedores como se a olhasse pela primeira vez, distante, diferente.
Tentara iniciar diversas conversas que lhe descortinassem o porquê daquele espírito inquieto agora, tanto tempo depois, mas os seus olhos fugiam dos dela, como se lhe furassem uma alma que ele julgava estar corrompida até ao final dos seus tempos...
Ela dava voltas em casa, sozinha, às escuras, pensando e repensando o poderia ter feito de mal. Ele uivara de prazer quando ela o segurara firme com ambas as mãos, derretendo-se por inteiro sob um corpo moreno e pouco sereno. O seu sexo pulsara nas suas mãos e ela sabia que determinara assim a velocidade, a intensidade, a profundidade do bater daquele coração.
Ainda que de uma forma rude e grosseira, pouco romântica ou idílica, ela determinara o seu ritmo, fazendo-o gemer e contorcer-se, deixando-o expôr-se a seu bel prazer...
Tal tenha sido isso, pensou, sentiu-se invadido, violei o seu espaço sexual, exigi demasiado...
Não exigira. Mas quem se daria agora era ela, expondo-se, fazendo de si marioneta de um prazer bruto e fero, que chegaria pelas 21, vindo do escritório.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Parte XXIII

Perdida no tempo recordava momentos de leveza quase irreais…
Porque estaria aquele presente tão bem escondido…e quando ele me viu pareceu tão surpreso...mas adorou e amou-me como jamais me tinha amado e eu senti-me tão bem naquela peça de roupa, que estranho, há anos que não me sentia tão confiante! Ele foi tão carinhoso…a suavidade com que se passeou pela minha pele…a sofreguidão apaixonada dos seus beijos, o ritmo dos corpos, o peso do desejo sobre o sofá…


E sem se dar conta sorria.

- Ana!...Ana!?!?

- Ahn? Desculpa… não estava cá..

-Pois, pois…é hora de almoço, vamos àquele restaurante chinês que abriu agora ao fim da rua?

-Sim pode ser, vamos então.

-E vais explicar-me no que é que estavas a pensar, estavas com um sorrisinho!

Saíram do escritório e começaram a curta caminhada até ao final da avenida.

- Oh o Ricardo ofereceu-me um pijama, mas é estranho porque parece que é mágico…tivemos uma noite fantástica ontem…

-Ah…isso explica o sorriso!!!

Entraram no restaurante a rir e sentaram-se numa mesa perto dum aquário. Já tinham pedido a comida e conversavam animadamente quando foram interrompidas por um rapaz magro de sorriso pronto que lhes fez uma pergunta:

- Desculpem a interrupção, mas precisava de uma opinião!!! Olhando bem para esta rapariga não dá logo para ver que ela tem tudo para ser feliz??? Um sorriso lindo, estes olhinhos sedutores…não acham que é um desperdício estar a sofrer por causa de um homem?

Ele falava desembaraçadamente e a pobre rapariga permanecia ao seu lado presa por um braço e extremamente envergonhada, o resto do grupo ria lá atrás.
Ana e a sua colega de trabalho responderam que ela era de facto bonita e que de certeza teria todos os rapazes que quisesse…E agora quem falava era a rapariga em causa:


- Desculpem a interrupção, eu sou a Letícia e ele é o Gabriel, um amigo meu…podem continuar a conversa agora. Com licença.

Letícia arrastou o seu amigo para a mesa e o grupo continuou a rir.

Ana não podia imaginar que a Letícia, aquela rapariga de sorriso lindo e olhos sedutores, era a verdadeira dona do pijama que lhe tinha proporcionado a melhor noite da sua vida.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O frio caía finalmente sob suas casas, num ano tórrido de reincidente adultério, como que pedindo que a expressão desse calor cessasse por fim...
Era altura de escolher o parceiro, para que deitados no tapete, reflectissem nas chamas cálidas da lareira, o fulgor com que se podem unir duas almas apaixonadas.
Num sofá, ele, introspectivo, pensava se teria escondido bem a dita peça de vestuário - dito assim parecia tão trivial... - que o votava ao ostracismo mas o impelia, simultaneamente, a uma atracção incontrolável, e bebia um cálice de vinho do porto.
Ela, encostara-se, semi-nua, ao umbral da porta e emitira uma leve tosse, típica de quem, subtilmente, procura convocar o olhar do outro presente.
Quando ele olha, horrorizado, percebe que ela O traz vestido...

-Como o encontraste?
-É para mim?
-Erm... claro!

Ela avança, pequena diaba, até ele. Nunca a vira assim, tão segura de si, tão vigorosa. Queria possuí-la em cada canto do seu modesto lar, tê-la como nunca a tivera...
Que poder tinha este pijama para garantir a cada mulher que o vestisse, uma sexualidade pujante e inegável que o atordoava e aflorava os sentidos??
Não precisa de A procurar nunca mais... Agora o Pijama era seu e vestido por sua mulher...
Tudo seria diferente agora, tudo mudaria...

Num movimento brusco, puxa-a para si percorrendo o seu corpo com as pontas dos dedos, deixando cair o copo, que ao entornar o veneno alcoolico que ele provara, iria manchar o tapete da sala, bem como o futuro daquele modesto casal...

quarta-feira, outubro 18, 2006


A chuva caía forte e assustadora numa noite de Outono e os meus pensamentos são levados para além do meu consciente, navegando por mares serenos e penetrando nas profundezas das montanhas do meu desejo. Entro num estado de submissão autêntica, deixando-me levar pelas minhas memórias mais remotas… Aquela suavidade que me tocava o corpo e me fazia sentir que o Mundo inteiro era só nosso, aquela tentação divina de te ter junta a mim, o respirar ofegantemente, tremendo de excitação. Contudo o Mundo que outrora fora nosso, desabara para sempre para mim, a desilusão que me causaste foi devastadora aos olhos do meu coração frágil e esperançoso. Quando olhei para ti naquele dia de chuva, tu eras outra, não eras aquela que eu conhecera no passado, que me fazia sentir mais do que especial, que me levava até ao àquele planeta tão longínquo, que eu conquistara, que me dava um calor humano tão forte que me apetecia devorar esse corpo de princesa de uma só vez, através de um impulso tão grande que me faria atingir o clímax que eu tanto desejava ansiosamente e que tu, desesperada, gritavas alto o meu nome para que os deuses o ouvissem. Aquelas noites eram realmente divinas, imortais, infinitas, plenas de prazer, mas quando te vi naquele dia sem o pijaminha vestido e quando o arrumaste no velho armário sujo do sótão, todos os meus sonhos voaram ao sabor da tempestade, refugiaram-se nos abismos mais profundos, num inferno para nunca mais voltarem. Nunca esquecerei tamanha tristeza que me fizeste sentir, a vontade de não continuar a viver! Eu não merecia isto pijaminha…


João Guilhoto

quinta-feira, outubro 12, 2006

Parte XIX

E aqui sentado a ver o mar, deixo a minha imaginação discorrer sobre tudo e sobre nada...mas leva-me sempre ao mesmo ponto, aquela imagem, aqueles momentos tão vivos que quase se tornaram memórias para mim.

Ela chega, bate três vezes à minha porta, eu demoro uns segundos a abrir e tenho um ramo de flores na mão, ela traz o vinho...tinto. Está linda e sorri só para mim...como nunca fez...ela entra, agradece as flores mas deixa-as em cima da mesa. Jantamos algo que eu preparei durante toda a tarde e depois sentamo-nos em duas almofadas colocadas estrategicamente em frente à lareira acesa...agora que o verão acabou vai saber bem aquecer a noite...conversamos, ouvimos música. Naquele momento não existimos para mais ninguém.
Ela encosta a cabeça no meu ombro e eu beijo-lhe os cabelos, ela pede-me mais e procura os meus lábios...e os dela são tão suaves! As mãos dela deslizam até aos botões da minha camisa e eu impeço-a de continuar. Levanto-me e trago-lhe quele delicioso pijama azul e peço-lhe que o vista...fica tão linda, tão indecentemente irresistível que até tenho pena de lho despir, mas a sua pele pede-me carícias e eu tenho que ceder...


Ah!...Se ela soubesse que sou eu que tenho o pijaminha e não aquele vizinho ordinário que ela tem!

terça-feira, setembro 26, 2006

- Preciso falar contigo. Vem imediatamente ter a minha casa. Não aceito desculpas.

Biiiip…

- Desligou-me o telefone na cara…Ela nunca me faz isto! – pensou ele – Deve ser algo mesmo muito grave…Talvez seja melhor ir ver o que ela quer e preparar-me bem. As mulheres quando estão assim são muito perigosas…

Vestiu-se apressado e caminhou em direcção àquela casa que ele tão bem conhecia. Bateu à porta na esperança de que nada se passasse mas mal entrou sentiu que ela não estava nada bem.

- Vim logo que pude. O que se passa?

- O que se passa??!! O QUE SE PASSA?!?! – gritava ela vermelha de fúria – O que se passa é que tu não respeitas nada! Sim, não faças esse olhar de desentendido que eu sei muito bem que te aproveitaste da minha ida de férias para vires ao meu apartamento buscar o pijaminha. Não te dou esse direito ouviste?!

- Mas eu…

- Mas tu nada! Devolve-mo JÁ!

- Mas eu não tenho o pijama. E estou tão perturbado como tu com esse desaparecimento! Sabes bem o quanto eu amava esse pijama. Sabes bem que sem ele nada faz sentido… Nada… Precisamos de encontrar o responsável!

- O quê? Não foste tu? Então e o bilhete??

- Que bilhete?

- Aquele que me deixaste… dizia: "Não te encontro. Tive de vir buscar uma parte de ti. Quando voltares procura-me para to vestir. Só contigo ele ganha vida e cheiro. Volta depressa." E estava junto de flores de jasmim…tal como tu me costumas dar.

- Juro-te que não fui eu…

- Não consigo confiar em ti. Desaparece da minha vida.

- Não estás a ser razoável…

- Nunca fui.

- Podias tentar…

- Tentar faz-me dores de cabeça. Desaparece!

- Vou-me embora porque já vi que estás nervosa… Telefona-me quando melhorares.

O barulho da porta anunciava a sua partida mas ela continuava prostrada na cama sem saber o que pensar.

Teria sido ele? No entanto parecia dizer a verdade… Então quem poderia ter sido? Ninguém sabia da existência do pijaminha… Ou pelo menos era o que ela pensava. Talvez alguém a andasse a espiar! Só de pensar nisso os seus cabelos arrepiaram-se… Terrível ideia, contudo, possível.

Não adiantava pensar nisso agora, teria de arranjar um plano e enquanto isso tinha de esquecer aquele vazio…

Whisky on the rocks, please.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Chegara a hora de enfrentar a situação.
Que desagradável era voltar de férias e ter de encarar memórias que tinham derretido com o calor do sol ou ficaram cristalizadas contra a toalha de praia a par do sal do mar...
As lágrimas caiam e purificavam a terra imunda que jazia no chão, já gelado, à medida que ela apanhava o rasto de destruição que uma obsessão deixou para trás. As flores, sem vida, também choravam. Haviam experienciado uma fúria pela qual não eram responsáveis. Na realidade ninguém era, nem ela, que as tinha deixado ali caídas, para morrer.
«Isto tem de mudar - pensou - Isto não é vida para ninguém...»
Não podia manter alguém assim na sua vida. As pálpebras fechavam-se de cansaço e dor. A cabeça latejava e ela, a medo, pensava até onde iria aquele indivíduo que ela tinha posto dentro de casa.
Engraçado como com perigo eminente nos tornamos racionais o suficiente e conseguimos rapidamente pôr de parte a parte emocional que nos leva a errar tanto. Os momentos que viveram eram uma parte da sua vida que não queria apagar, mas ela não conhecia mais a pessoa que arrombara a sua porta daquela maneira. Já não confiava nem podia confiar...
Ao arrombar a porta da sua casa arrombara também a porta que lhe garantia uma entrada segura e consentida na sua vida. Partira-lhe as flores em busca de um prazer terreno, qual bruto, ávido, sedento animal.
Ele partira-lhe as flores, ultrapassou a barreira do razoável. E isso ela não perdoaria.

Agora a história era outra....