segunda-feira, julho 13, 2009

Arrependimento.

Ela sabia melhor, sempre soubera. Não baixava a guarda nunca, mas as recordações de outros tempos fizeram-na ceder. As recordações eram de tempos idos em que também sofreu mas disso nunca ninguém se lembra... E recordava os andares de mão dada, o toque dele, as mãos dele, o cheiro dele. Inconfundível.
Por isso, quando depois da noite em que secretamente foram um do outro, ele não deu notícias, não respondeu à sua mensagem e não voltou a ligar, Letícia pegou, pedra por pedra, e reconstruiu o muro.
Saiu à noite, com as amigas. Suou no ginásio. Comeu saladas e gelados. Bebeu cerveja, apanhou sol.
Por isso, quando depois da noite em que ele lhe segredou amores que não tinha ao ouvido, ele a voltou a ver, ela tinha pele e cabelo dourado do sol, olhos brilhantes e o que ele via era como se a visse pela primeira vez.
Por isso, quando depois de todas as noites passadas, pedra por pedra, a reconstruir o muro, Letícia seduziu-o. Mas não se deu.
Por isso, quando depois de saber que ele tinha alguém na sua vida de quem se despedia todas as noites com sorrisos, Letizia avançou e agarrou-lhe o cinto. Desapertou-o. Abriu um botão, outro e mais outro. Deixou que as calças lhe caíssem e puxou-o para si. Sentiu-o duro, forte, mas doce por dentro, como se o veneno que ela sentia hoje por ele lhe escorresse pela garganta e o fizesse amarrar àquela sereia.
Letícia sentia-se perigosa. A chama que provocou demorou a queimar, mas Letícia não esmoreceu, nem derrubou. Continuou as sua dança perigosa, com as mãos dele no seu peito, e as dela por cima, como quem grita controlo. Satisfez a sua raiva naquela, hoje, abjecta pessoa que tanto queria mas a quem nada podia dizer. Usou-o por desfeita, por rancor. Hoje ela dormia sozinha, mas ele dormia pior.
Por isso, depois de satisfeita fê-lo vir. Desceu da cama e vestiu o vestido que se colava agora à pele tranpirada. Ele, extasiado mal se apercebeu que Letícia estava saída e foi à casa de banho passar um refresco pelo rosto, recuperar a pulsação, respirar de novo, sem sofreguidão.
E por isso, quando regressou estava sozinho num quarto cheio de um silêncio que o esmagou.

1 comentário:

T. disse...

toma láaaa.

ninguém se mete com a nossa Letícia. oh yeah.