terça-feira, abril 20, 2010

Pedi-te que saísses com descrição do prédio, não queria que te vissem - especialmente o Miguel... Que explicação teria para que saísses de camisa em punho e peito ainda suado, de minha casa, que quase partilho, paredes meias, com as dele? Não demoraria dois segundos a perceber que aqueles gritos, os risos, os gemidos, eram os teus.
Olhaste-me como se te usasse mas sei que não estiveste comigo esta noite. Outras curvas, outros olhos toldavam-te a mente [e tu achas que eu não te conheço?] mas às vezes, sexo era só sexo e quis-te mostrar que hoje, fizeste com que assim fosse.
Estava cansada de tanta noite de suor desmedido sem um beijo doce pela manhã, mas não era isso que queria para mim. Ia parar. Ia parar com as noites de perdição contigo e com ele, o stress absoluto para que nenhum soubesse de como o outro me fazia gemer.
Pensei em escolher... mas como? Tu com o teu corpo de deus grego [que maior cliché, mas a verdade é que ninguém saiu melhor esculpido], ele com as palavras e um olhar que me deitava por terra e me deixava a pedir [implorar, lembras-te Miguel? Não seria a primeira vez...] por mais...
Por isso ia parar. Para já, só queria parar...

sexta-feira, abril 16, 2010

Regresso a casa

Enquanto caminhava em direcção a casa, pensava no banho quente que iria preparar. De repente, começou a chover torrencialmente e nem a corrida afogueada e extenuante a salvou de abrir a porta já com o cabelo a pingar. Do outro lado, alguém esperava impaciente o elevador.
Os seus olhos cruzaram-se. Não se viam desde daquela tarde em que Letícia o tinha deixado sentado numa cama abandonada. Ricardo esforçou-se por parecer descontraído, ia visitar o amigo de longa data que tinha na casa em frente à de Letícia. 
- Olá - disse-lhe num tom nervoso indisfarçável.
- Ah olá, Ricardo! - foi a resposta serena e aparentemente inabalável da encharcada Letícia.
Entraram os dois no elevador, o espelho embaciou-se: ela tinha chegado com a chuva na roupa e o calor na pele. Ele tentou manter a respiração compassada e calma. Sentia as mãos dormentes e uma vontade absurda de lhe agarrar na cintura e lhe largar beijos no pescoço.
Letícia aproximou-se da porta, Ricardo aproximou-se dela sem lhe tocar, sussurrou-lhe ao ouvido. Ela estremeceu, não pelas palavras que ouviu mas pelo pulsar dos lábios tão próximos do seu pescoço.
Virou-se, repentinamente, e surpreendeu-o com um beijo que o encostou a um dos cantos do elevador. As portas abrira-se quase no mesmo minuto e ela saiu sem olhar para trás. Foi rápida a abrir a porta de casa e entrou. Respirou fundo. "Ainda bem que não passou disto" pensou. Pouco depois ouviu a campainha da porta da frente e os cumprimentos dos dois amigos. Perguntou-se se o Miguel saberia de alguma coisa sobre ela e o Ricardo, afinal de contas eles eram tão amigos...




quinta-feira, abril 08, 2010

Tarde sagrada com o pecado na mente

Levantei-me e desta vez consegui sair do teu ninho. Roubei-te uma t-shirt antiga, e desci, descalça, até minha casa. Vesti uns calções justos [aqueles que tu adoras sabes? com os quais me fotografas sempre...] e fui correr. Precisava de suar o que tinha de teu em mim. Precisava de sentir algo que não as ondas que me provocavas e me subiam a coluna, arrepiando-me.
Suei uma vida, duas noites de sexo, muitas fantasias. Sabes como gosto de correr de cabelo ao vento e peito firme, seguro. Sabes como me sinto depois de correr, suar as noites de sexo que temos em segredo. Voltei a casa e pus a água a correr. Ouvia os vizinhos do direito a fazer sexo. Ela batia com a cabeça na parede e gemia e quis ter-te comigo, comer-te outra vez. Delicioso. Poderoso. Meu. Arrepiei-me e enfiei-me no duche. As altas temperaturas, o vapor convidavam-me a ficar e conhecer o meu corpo mas adiei o toque e pus um fim ao auto-conhecimento. Hoje encontravamo-nos na igreja. Podiamos fazer dezenas de piadas com a nossa presença ali, num sítio sagrado onde só o pecado nos vinha à mente.
Entrei na Igreja e tu já lá estavas, camisa aberta a três quartos, a pele morena, arrepiada quando olhaste para mim. Preto. Eu vinha de preto. Maquilhagem esforçada, que o suor esborrataria mais tarde. A cerimónia decorreu, cheia de palavras sacras mas nós estavamos longe. Tu, sentado no banco atrás de mim, nós atrás de todos os outros. Sussurravas-me na nuca e eu estava mais acesa do que nunca... cruzei as pernas para que parassem de tremer. Esperámos que saíssem, alegámos que precisavamos de um momento. Para nos dedicarmos a algo...divino: nós. Nús.
Seguiste-me até ao confessionário e se pudesses pregavas-me as mãos por cima da cabeça. Com força, mantiveste-me assim, presa e beijaste-me o corpo.Ficaste de joelhos e esperaste que me juntasse a ti. Sentei-te no banco e tomei o meu lugar no teu sexo. O velho banco de madeira rangia e o som só me fazia acelerar o movimento, desejar-te mais dentro de mim.Arrastaste-me até aos degraus que nos levavam ao altar e os reflexos de cor dos vitrais no meu peito acenderam o animal em ti. Viraste-me de costas com brusquidão e deixaste-me de joelhos apoiados no chão e a minha traseira suada junto à tua frente definida, erguida. Enrolei os meu braços no teu pescoço, seguraste-me o peito com uma mão, o cabelo com a outra. Mais uma vez doía, como doia sempre que estava contigo. Mas não parávamos, nunca, não tão perto da melhor parte. Aceleraste o ritmo e tive de me morder para não gritar, uma, outra e outra vez. Cravaste as unhas na minha cintura, deixando-me saber que te aproximavas do fim. Fui lá contigo e gritei. Um grito suado, ousado, abafado... pelo grito do sino da Torre da Igreja de vidros embaciados.