segunda-feira, dezembro 25, 2006

Parte XXIII

Perdida no tempo recordava momentos de leveza quase irreais…
Porque estaria aquele presente tão bem escondido…e quando ele me viu pareceu tão surpreso...mas adorou e amou-me como jamais me tinha amado e eu senti-me tão bem naquela peça de roupa, que estranho, há anos que não me sentia tão confiante! Ele foi tão carinhoso…a suavidade com que se passeou pela minha pele…a sofreguidão apaixonada dos seus beijos, o ritmo dos corpos, o peso do desejo sobre o sofá…


E sem se dar conta sorria.

- Ana!...Ana!?!?

- Ahn? Desculpa… não estava cá..

-Pois, pois…é hora de almoço, vamos àquele restaurante chinês que abriu agora ao fim da rua?

-Sim pode ser, vamos então.

-E vais explicar-me no que é que estavas a pensar, estavas com um sorrisinho!

Saíram do escritório e começaram a curta caminhada até ao final da avenida.

- Oh o Ricardo ofereceu-me um pijama, mas é estranho porque parece que é mágico…tivemos uma noite fantástica ontem…

-Ah…isso explica o sorriso!!!

Entraram no restaurante a rir e sentaram-se numa mesa perto dum aquário. Já tinham pedido a comida e conversavam animadamente quando foram interrompidas por um rapaz magro de sorriso pronto que lhes fez uma pergunta:

- Desculpem a interrupção, mas precisava de uma opinião!!! Olhando bem para esta rapariga não dá logo para ver que ela tem tudo para ser feliz??? Um sorriso lindo, estes olhinhos sedutores…não acham que é um desperdício estar a sofrer por causa de um homem?

Ele falava desembaraçadamente e a pobre rapariga permanecia ao seu lado presa por um braço e extremamente envergonhada, o resto do grupo ria lá atrás.
Ana e a sua colega de trabalho responderam que ela era de facto bonita e que de certeza teria todos os rapazes que quisesse…E agora quem falava era a rapariga em causa:


- Desculpem a interrupção, eu sou a Letícia e ele é o Gabriel, um amigo meu…podem continuar a conversa agora. Com licença.

Letícia arrastou o seu amigo para a mesa e o grupo continuou a rir.

Ana não podia imaginar que a Letícia, aquela rapariga de sorriso lindo e olhos sedutores, era a verdadeira dona do pijama que lhe tinha proporcionado a melhor noite da sua vida.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O frio caía finalmente sob suas casas, num ano tórrido de reincidente adultério, como que pedindo que a expressão desse calor cessasse por fim...
Era altura de escolher o parceiro, para que deitados no tapete, reflectissem nas chamas cálidas da lareira, o fulgor com que se podem unir duas almas apaixonadas.
Num sofá, ele, introspectivo, pensava se teria escondido bem a dita peça de vestuário - dito assim parecia tão trivial... - que o votava ao ostracismo mas o impelia, simultaneamente, a uma atracção incontrolável, e bebia um cálice de vinho do porto.
Ela, encostara-se, semi-nua, ao umbral da porta e emitira uma leve tosse, típica de quem, subtilmente, procura convocar o olhar do outro presente.
Quando ele olha, horrorizado, percebe que ela O traz vestido...

-Como o encontraste?
-É para mim?
-Erm... claro!

Ela avança, pequena diaba, até ele. Nunca a vira assim, tão segura de si, tão vigorosa. Queria possuí-la em cada canto do seu modesto lar, tê-la como nunca a tivera...
Que poder tinha este pijama para garantir a cada mulher que o vestisse, uma sexualidade pujante e inegável que o atordoava e aflorava os sentidos??
Não precisa de A procurar nunca mais... Agora o Pijama era seu e vestido por sua mulher...
Tudo seria diferente agora, tudo mudaria...

Num movimento brusco, puxa-a para si percorrendo o seu corpo com as pontas dos dedos, deixando cair o copo, que ao entornar o veneno alcoolico que ele provara, iria manchar o tapete da sala, bem como o futuro daquele modesto casal...

quarta-feira, outubro 18, 2006


A chuva caía forte e assustadora numa noite de Outono e os meus pensamentos são levados para além do meu consciente, navegando por mares serenos e penetrando nas profundezas das montanhas do meu desejo. Entro num estado de submissão autêntica, deixando-me levar pelas minhas memórias mais remotas… Aquela suavidade que me tocava o corpo e me fazia sentir que o Mundo inteiro era só nosso, aquela tentação divina de te ter junta a mim, o respirar ofegantemente, tremendo de excitação. Contudo o Mundo que outrora fora nosso, desabara para sempre para mim, a desilusão que me causaste foi devastadora aos olhos do meu coração frágil e esperançoso. Quando olhei para ti naquele dia de chuva, tu eras outra, não eras aquela que eu conhecera no passado, que me fazia sentir mais do que especial, que me levava até ao àquele planeta tão longínquo, que eu conquistara, que me dava um calor humano tão forte que me apetecia devorar esse corpo de princesa de uma só vez, através de um impulso tão grande que me faria atingir o clímax que eu tanto desejava ansiosamente e que tu, desesperada, gritavas alto o meu nome para que os deuses o ouvissem. Aquelas noites eram realmente divinas, imortais, infinitas, plenas de prazer, mas quando te vi naquele dia sem o pijaminha vestido e quando o arrumaste no velho armário sujo do sótão, todos os meus sonhos voaram ao sabor da tempestade, refugiaram-se nos abismos mais profundos, num inferno para nunca mais voltarem. Nunca esquecerei tamanha tristeza que me fizeste sentir, a vontade de não continuar a viver! Eu não merecia isto pijaminha…


João Guilhoto

quinta-feira, outubro 12, 2006

Parte XIX

E aqui sentado a ver o mar, deixo a minha imaginação discorrer sobre tudo e sobre nada...mas leva-me sempre ao mesmo ponto, aquela imagem, aqueles momentos tão vivos que quase se tornaram memórias para mim.

Ela chega, bate três vezes à minha porta, eu demoro uns segundos a abrir e tenho um ramo de flores na mão, ela traz o vinho...tinto. Está linda e sorri só para mim...como nunca fez...ela entra, agradece as flores mas deixa-as em cima da mesa. Jantamos algo que eu preparei durante toda a tarde e depois sentamo-nos em duas almofadas colocadas estrategicamente em frente à lareira acesa...agora que o verão acabou vai saber bem aquecer a noite...conversamos, ouvimos música. Naquele momento não existimos para mais ninguém.
Ela encosta a cabeça no meu ombro e eu beijo-lhe os cabelos, ela pede-me mais e procura os meus lábios...e os dela são tão suaves! As mãos dela deslizam até aos botões da minha camisa e eu impeço-a de continuar. Levanto-me e trago-lhe quele delicioso pijama azul e peço-lhe que o vista...fica tão linda, tão indecentemente irresistível que até tenho pena de lho despir, mas a sua pele pede-me carícias e eu tenho que ceder...


Ah!...Se ela soubesse que sou eu que tenho o pijaminha e não aquele vizinho ordinário que ela tem!

terça-feira, setembro 26, 2006

- Preciso falar contigo. Vem imediatamente ter a minha casa. Não aceito desculpas.

Biiiip…

- Desligou-me o telefone na cara…Ela nunca me faz isto! – pensou ele – Deve ser algo mesmo muito grave…Talvez seja melhor ir ver o que ela quer e preparar-me bem. As mulheres quando estão assim são muito perigosas…

Vestiu-se apressado e caminhou em direcção àquela casa que ele tão bem conhecia. Bateu à porta na esperança de que nada se passasse mas mal entrou sentiu que ela não estava nada bem.

- Vim logo que pude. O que se passa?

- O que se passa??!! O QUE SE PASSA?!?! – gritava ela vermelha de fúria – O que se passa é que tu não respeitas nada! Sim, não faças esse olhar de desentendido que eu sei muito bem que te aproveitaste da minha ida de férias para vires ao meu apartamento buscar o pijaminha. Não te dou esse direito ouviste?!

- Mas eu…

- Mas tu nada! Devolve-mo JÁ!

- Mas eu não tenho o pijama. E estou tão perturbado como tu com esse desaparecimento! Sabes bem o quanto eu amava esse pijama. Sabes bem que sem ele nada faz sentido… Nada… Precisamos de encontrar o responsável!

- O quê? Não foste tu? Então e o bilhete??

- Que bilhete?

- Aquele que me deixaste… dizia: "Não te encontro. Tive de vir buscar uma parte de ti. Quando voltares procura-me para to vestir. Só contigo ele ganha vida e cheiro. Volta depressa." E estava junto de flores de jasmim…tal como tu me costumas dar.

- Juro-te que não fui eu…

- Não consigo confiar em ti. Desaparece da minha vida.

- Não estás a ser razoável…

- Nunca fui.

- Podias tentar…

- Tentar faz-me dores de cabeça. Desaparece!

- Vou-me embora porque já vi que estás nervosa… Telefona-me quando melhorares.

O barulho da porta anunciava a sua partida mas ela continuava prostrada na cama sem saber o que pensar.

Teria sido ele? No entanto parecia dizer a verdade… Então quem poderia ter sido? Ninguém sabia da existência do pijaminha… Ou pelo menos era o que ela pensava. Talvez alguém a andasse a espiar! Só de pensar nisso os seus cabelos arrepiaram-se… Terrível ideia, contudo, possível.

Não adiantava pensar nisso agora, teria de arranjar um plano e enquanto isso tinha de esquecer aquele vazio…

Whisky on the rocks, please.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Chegara a hora de enfrentar a situação.
Que desagradável era voltar de férias e ter de encarar memórias que tinham derretido com o calor do sol ou ficaram cristalizadas contra a toalha de praia a par do sal do mar...
As lágrimas caiam e purificavam a terra imunda que jazia no chão, já gelado, à medida que ela apanhava o rasto de destruição que uma obsessão deixou para trás. As flores, sem vida, também choravam. Haviam experienciado uma fúria pela qual não eram responsáveis. Na realidade ninguém era, nem ela, que as tinha deixado ali caídas, para morrer.
«Isto tem de mudar - pensou - Isto não é vida para ninguém...»
Não podia manter alguém assim na sua vida. As pálpebras fechavam-se de cansaço e dor. A cabeça latejava e ela, a medo, pensava até onde iria aquele indivíduo que ela tinha posto dentro de casa.
Engraçado como com perigo eminente nos tornamos racionais o suficiente e conseguimos rapidamente pôr de parte a parte emocional que nos leva a errar tanto. Os momentos que viveram eram uma parte da sua vida que não queria apagar, mas ela não conhecia mais a pessoa que arrombara a sua porta daquela maneira. Já não confiava nem podia confiar...
Ao arrombar a porta da sua casa arrombara também a porta que lhe garantia uma entrada segura e consentida na sua vida. Partira-lhe as flores em busca de um prazer terreno, qual bruto, ávido, sedento animal.
Ele partira-lhe as flores, ultrapassou a barreira do razoável. E isso ela não perdoaria.

Agora a história era outra....

quarta-feira, agosto 30, 2006

Parte XV

«- Oh! Meu Deus!»
«- Pois é, menina! Eu não queria incomodar mas achei que era um assunto que tinha que ser a menina a resolver. Nem chamei a polícia!»
«- Fez bem Dona Isabel! Eu vou p’raí assim que arranjar comboio, mas tenho que acertar as coisas com os meus colegas. Olhe…eu já lhe ligo para confirmar, pode ser?»
«- Pode, pode! Até logo.»
«- Até logo e obrigado!»



Eu não acredito, ele é louco! Vai pagar o arranjo da porta, ai vai! E eu não quero voltar já para casa, se o fizer ele vai conseguir o que queria!



«- Passa-se alguma coisa?»
«- Nada de grave, era a porteira lá do prédio, os vasos da minha varanda caíram com o vento. Ela queria saber quando volto e o que fazer.»
«- Ah! Mas achas que tens que voltar tão cedo?»
«- Não! Eu fiquei de lhe voltar a ligar, vou pedir-lhe que tome conta das coisas por mais uma semana.»
«- Ok, mas se for preciso ajuda, ir deixar-te ao comboio por exemplo…’tás à vontade!»
«- Obrigado Marta, mas não vai ser preciso!»



Não vai levar a melhor, vai ter que ficar agarrado ao pijama por mais uma semana…



«- Estou? Dona Isabel?»
«- Olá menina, então já decidiu?»
«- Pois. Olhe, a sra. Consegue controlar as coisas por mais uma semaninha? Eu depois chamo alguém para compor a fechadura, não se preocupe!»
«- Sim sr.! Não há problema. E o que é que faço às flores?»
«- Nada, D. Isabel, deixe-as estar…»
«- Pronto, a menina é que sabe!»
«- Obrigado mais uma vez e até para a semana!»
«- De nada, adeus!»

domingo, julho 23, 2006

«-Estou sim menina, desculpe lá chateá-la durante as férias, mas surgiu um problema

Era a porteira. Que chatice, que se terá passado?

«-A noite passada alguém arrombou a porta e entrou em sua casa.»

«-Oh meu Deus, levaram ou partiram alguma coisa???»

«-Sabe menina, algo de muito estranho se passa. É que alguém deixou flores de jasmim e um cheirinho delicioso por toda a casa e um bilhete em cima da cama. Diz:
"Não te encontro. Tive de vir buscar uma parte de ti.Quando voltares procura-me para to vestir. Só contigo ele ganha vida e cheiro.Volta depressa."»

(...)

segunda-feira, julho 17, 2006

Parte XIII


O teu toque tão suave, tão inesperadamente delicioso. A primeira vez que me viste…não, a primeira vez que olhaste para mim, adormeceste os olhos no meu corpo e ficaste encantado com o meu pijama. Esse pijaminha indecentissimo. E aquele fim de tarde repetiu-se tantas vezes. Chegavas cansado, batias à minha porta com arrogância e quase nem falavas, eras consumido pela aura erótica do desgraçado do pijama. Um dia disse-te que o ia deitar fora, destituiste-me imediatamente da ideia…acho que gostas mais do pijama do que de mim.
E agora imagino-te desesperado a vigiares a minha porta à espera de uma notícia, um contacto…mas nada. Eu estou de férias com amigos, e como nunca procuraste mais formas de me contactar, vais esperar e quem sabe desesperar até que o pijama e a sua dona voltem para trás dessa porta de madeira que olhas saudoso.

quinta-feira, maio 11, 2006

É difícil crêr que me entreguei assim...
Nunca fui quebra-corações, nem chegava às festas arrasando-as, cumprimentando este, aquele ou o outro.
Sempre fui do tipo recatado e eis que me vejo a entrar no seu apartamento, sem quês nem porquês e atiro-me a ela avidamente...
Como é possível? Que tipo de mulher é ela? Uma beleza exótica... Um cheiro...
Sinto-me vivo para um leque de sensações que nunca havia experienciado.
O seu cheiro ainda está na almofada onde adormecemos, cúmplices, depois de uma tórrida noite de... conhecimento mútuo.
Nunca vivi nada assim, e nunca nada me pareceu também tão doentio.
Não é só ela que me provoca algum orgásmico desconforto... há algo nela... ou algo dela absolutamente aliciante...
O jogo de sedução que montou ao despir aquele pecaminoso pijama tirou-me do sério...
Receio os sentimentos que esta mulher e tudo o que ela respira podem despertar em mim.
Mas como qualquer misto de agridoce vício, não me consigo despegar dela. A miscelânea de fluídos e sentimentos partilhados criaram um vínculo magicamente construído de maneira a conduzir os meus pés, inadvertidamente, na sua direcção.
Estou entregue a algo em que nunca quis acreditar, um fado que não pedi, uma vida que não sonhei...e nunca nada soube melhor.

quarta-feira, maio 10, 2006

Memórias... ( parte XI )

Uma gota de água fria no lábio inferior e não consegue dormir. Às voltas nos lençóis as lembranças são recorrentes, estava ali no colchão (sozinha) por causa dele, o maldito pijaminha! O protagonismo do conjuntinho armado em sexy, azul e suave, começava a irritá-la profundamente. No entanto sabia que precisava dele, de o sentir em sintonia com a sua pele para desfrutar em pleno, para conseguir a ligação imperturbável porque tanto ansiava.

Os pensamentos atropelam-se. Já tinha posto a hipótese de se ver livre do pijama porém, aquilo que a consumia não poderia ser resolvido tão simplesmente. Aprender a controlar a influência do pijaminha parecia fácil, mas já conhecia o amargo sabor da frustração...e às voltas na cama repetia que desta vez ia ser diferente.

Uma imagem tão nítida.
Era domingo, em pleno verão. Ela estava em casa, sozinha. Tocaram à campainha...Inconscientemente foi abrir, o cabelo apanhado, só com o pecaminoso pijama no corpo e os pés descalços na madeira.
- Olá...
- Er..Olá.
Era o vizinho do apartamento em frente, alto, cabelo castanho claro, olhar tímido, mas lábios tentadores. Ela tenta falar mais...Envergonhada tentou alcançar a primeira peça de roupa que conseguiu e veio ao encontro da sua mão o casaco de ganga, mas antes que a pudesse vestir, já a mão dele percorria a sua cintura e os seus olhos, outrora tímidos, transbordavam desejo. Sem saber o que dizer, sentiu-se avassalada pela sensualidade dele e quando voltou a si, estava envolvida num beijo intenso e a sua porta já estava fechada...
(Sim já tinha visto aquele filme antes. Sabia que acabava no sofá dele, com o pijaminha no chão.) As mãos passeavam sem pudor no seu corpo, contornando cada curva, abraçando cada insinuação mais sensual, sem qualquer respeito ao pijaminha que foi despido, indecentemente, entre beijos e carícias. Ela tentava afastar de si aquele ser enlouquecido pelo desejo e de quem ela nada sabia.


O primeiro contacto, uma loucura. E horas depois estava ela a sair daquela casa para entrar na da frente, com um sorriso comprometedor nos lábios. Sim, tinham conversado, tinham rido até...Ele tinha-a convidado para lanchar e ela adorara os crepes dele. Até chegar a porteira com a chave suplente.

Lembra-se perfeitamente do som dos seus passos ao sair. Tenta afastar a memória, mais uma volta na cama...E exausta adormece...

segunda-feira, maio 08, 2006

O destino?

E o Destino quis que eu te visse naquela manhã chuvosa.
o problema é que eu não acredito no destino.
O Destino quis que saíssemos na mesma paragem, que fôssemos pela mesma rua, para o mesmo prédio. Quis que tu gostasses da casa e quis que te mudasses para lá nessa mesma semana com esse maldito pijama azul na mala.
o destino é para tolos!
Que tivesses fixado a minha cara e sem qualquer intenção aparente me tivesses deixado entrar, de mansinho, na tua vida.
mas o destino não existe!
Que a corrente de ar te tivesse deixado fora de casa, sem chaves, mas com o fantástico pijaminha, claramente uma fantasia obscura que agitava os meus pensamentos num intenso frenesim. Que a tua voz rasgasse em mim uma nova vida. Que eu estivesse pré-Destinado
pré-destinado?
a passar naquele momento em que te mostraste, vestida, irremediavelmente despida à porta de tua casa. Que, como se nada melhor tivesses para fazer, me beijasses. Assim. Despreocupadamente. Queimando-me ao mais leve toque dos teus lábios, dos teus dedos na minha pele. Um turbilhão de imagens se impusesse. Imaginava-te nua, vestida. Com pijama, sem pijama, pouco importava.
só o Destino.
Secretamente perdi-me ali. Em ti. E jurei acreditar para sempre no Destino que te pôs no meu caminho.

terça-feira, março 28, 2006

Obsessão..

Obsessão..

Quão ténue é a linha que separa o ódio do amor...Mas que linha sequer os separa?Qualquer desenho de limite se perde, por entre o nevoeiro obscuro das obsessões; aquelas cujos novelos de arame farpado nos prendem os pulsos e nos rasgam a visão - verdadeira cegueira - Aquelas que apenas nos fazem ver aquilo que queremos ver, ouvir aquilo que queremos ouvir, mas sentir tudo aquilo que não nos evitamos sentir. Aí todo qualquer esboço de barreira será apenas o da irracionalidade.

Desejo. Comprimir. Morder de lábios.Cravar de unhas em punhos cerrados. Preto e vermelho. Baixar de olhos. Um calor na respiração. - fogo em todo o sistema respiratório. Um contorcer de entranhas - ácido em todo o sistema digestivo.Febre, febre.Um suor nervoso escorrendo por todas as veias e artérias em sangue rápido e grosso, deslizando pelas palmas das mãos em clausura obrigatória.

Negação, oh doce negação!Fúria verdadeira. Desculpas inquietas no tremer das pupilas dilatadas. Raciocínios atabalhoadamente formulados na vergonha de um orgulho ferido.
Quão orgulhoso é o ser humano e quão patétitcamente se debate contra o emaranhado de todas as emoções e quereres que não consegue controlar!Quão desesperadamente procura encontrar-lhe substituos mais práticos e confortáveis.Mentiras cómodas bem à mão. Outros sentimentos forjados.Outras falsas obsessões.



Ele estava sentado no comboio, junto à janela como sempre - para aproveitar os fracos de raio de sol de fim de tarde, na sua cara branca de Inverno, por bronzear - que ele, amante apaixonado do Verão, tanto detestava.
Estava sentado e sorria. Um brilho vitorioso no seu olhar - espelho cintilante do real humano animal (aquele que tentamos sempre esconder na purpurina convenientemente bonita dos sentimentos - chimpazé gigante com um lacinho cor-de-rosa.
Ele sorria, convencendo-se das mentiras preciosas que se impingira - mosca espernejando na lâmina de vidro sobre o olhar cruel do seu observador - convencendo-se que não era o desejo pérfido por aquela peça indecente que o consumia, negando-se à obsessão (ao seu olhar hipnotizante que o enlaçava).
Convencendo-se que era dela - simples manequim do seu verdadeiro pecado - que sentia saudades. Convencendo-se de que era por ela que de facto estava arrependido, que era por ela, pelas sua lágrimas sinceras, pelo seu amor infantil, a pena que realmente sentira pelo dia em que ela partira (e o levara com ela - o segredo que tanto odiava amar - O Pijama).
Estava sentado e recordava. Inventava lembranças, talvez.Aquelas que suportavam a sua tese de paixão (aquelas em que fingira ser pela sua pele bonita - sim, ele sabia que era bonita - que as suas mãos tremeram de prazer.
Estava sentado, de olhos fechados, e voava...Voava até ao primeiro dia em que aquela pequena e aparentemente inocente peça de roupa haveria pela primeira vez tomado o molde da sua vida...

domingo, março 05, 2006

Pijaminha Indecente – Parte VIII


…Porque esperas, pequena sereia minha, para que me chames e me obrigues a rejubilar de novo com o teu arfar no meu pescoço? Esse teu pijama, esse teu invólucro que mexe comigo como nada mais o faz…
Perco-me se te vejo com ele vestido. Ele que te sente e te veste como eu jamais o conseguirei. Amo-o e odeio-o quase com a mesma intensidade. Ele que te possui sempre, a cada nova noite em que mais uma vez tu o deixas penetrar o teu ser, tornando-se a tua nova pele.
Maldito pijama indecente que guardas com ardor. Se o vejo sozinho, lançado no chão enquanto nos amamos, confesso que esboço um esgar de contentamento. Aí, só aí és só minha. Nenhuma outra pele ou barreira se porá entre nós e serás meu pertence…
Mas pobre pijama indecente, se sem ti nada revela ser. Perde a cor, perde o brilho. És o sol que aquece o seu Outono, és tudo aquilo que justifica a sua existência. Mas não mais ele estará no meu caminho. De todas as noites que chego e num impulso o arranco do seu esbelto corpo moreno e sedoso, ali fica esquecido, qual pedaço de trapo abandonado, enquanto que tu gemes de fulgor e deleite.
Geme ela por ti pijama amigo? Longe disso me quer parecer. Seu arfar e lânguidos gritos são meus e meus serão pois eu me faço e desfaço para lhe dar este mundo e o próximo, e os que virão depois do último.
Só a mim ela olha e contorce lábios e os trinca e brinca com os cabelos. Só por mim ela passeia a sua figura nua sem véus nem armaduras…e a ti pijaminha, o que faz ela por ti que justifique esse teu olhar misterioso e arrogante…diz pijama malvado, que faz ela para que te coles ao seu mágico físico e não tires essa presunção de tecido provocador? Toca-te quando não estou a ver? Faz-te festas de mansinho para que fiques com ela nas noites em que não venho? Que te diz ela à noitinha, quando meu sono vai alto e ela me mira de soslaio? Fala comigo pijama indecente, diz-me aquilo que eu nunca vi!...