quarta-feira, outubro 18, 2006


A chuva caía forte e assustadora numa noite de Outono e os meus pensamentos são levados para além do meu consciente, navegando por mares serenos e penetrando nas profundezas das montanhas do meu desejo. Entro num estado de submissão autêntica, deixando-me levar pelas minhas memórias mais remotas… Aquela suavidade que me tocava o corpo e me fazia sentir que o Mundo inteiro era só nosso, aquela tentação divina de te ter junta a mim, o respirar ofegantemente, tremendo de excitação. Contudo o Mundo que outrora fora nosso, desabara para sempre para mim, a desilusão que me causaste foi devastadora aos olhos do meu coração frágil e esperançoso. Quando olhei para ti naquele dia de chuva, tu eras outra, não eras aquela que eu conhecera no passado, que me fazia sentir mais do que especial, que me levava até ao àquele planeta tão longínquo, que eu conquistara, que me dava um calor humano tão forte que me apetecia devorar esse corpo de princesa de uma só vez, através de um impulso tão grande que me faria atingir o clímax que eu tanto desejava ansiosamente e que tu, desesperada, gritavas alto o meu nome para que os deuses o ouvissem. Aquelas noites eram realmente divinas, imortais, infinitas, plenas de prazer, mas quando te vi naquele dia sem o pijaminha vestido e quando o arrumaste no velho armário sujo do sótão, todos os meus sonhos voaram ao sabor da tempestade, refugiaram-se nos abismos mais profundos, num inferno para nunca mais voltarem. Nunca esquecerei tamanha tristeza que me fizeste sentir, a vontade de não continuar a viver! Eu não merecia isto pijaminha…


João Guilhoto

quinta-feira, outubro 12, 2006

Parte XIX

E aqui sentado a ver o mar, deixo a minha imaginação discorrer sobre tudo e sobre nada...mas leva-me sempre ao mesmo ponto, aquela imagem, aqueles momentos tão vivos que quase se tornaram memórias para mim.

Ela chega, bate três vezes à minha porta, eu demoro uns segundos a abrir e tenho um ramo de flores na mão, ela traz o vinho...tinto. Está linda e sorri só para mim...como nunca fez...ela entra, agradece as flores mas deixa-as em cima da mesa. Jantamos algo que eu preparei durante toda a tarde e depois sentamo-nos em duas almofadas colocadas estrategicamente em frente à lareira acesa...agora que o verão acabou vai saber bem aquecer a noite...conversamos, ouvimos música. Naquele momento não existimos para mais ninguém.
Ela encosta a cabeça no meu ombro e eu beijo-lhe os cabelos, ela pede-me mais e procura os meus lábios...e os dela são tão suaves! As mãos dela deslizam até aos botões da minha camisa e eu impeço-a de continuar. Levanto-me e trago-lhe quele delicioso pijama azul e peço-lhe que o vista...fica tão linda, tão indecentemente irresistível que até tenho pena de lho despir, mas a sua pele pede-me carícias e eu tenho que ceder...


Ah!...Se ela soubesse que sou eu que tenho o pijaminha e não aquele vizinho ordinário que ela tem!