terça-feira, julho 14, 2009

Sentou-se na cama, ainda quente do torpor dos corpos. O quarto parecia-lhe enorme e tão vazio... Estava sozinho. O coração batia-lhe desenfreado no peito, o corpo estava dormente, e nada à sua volta fazia sentido. Um grito agudo trespassou os minutos, no quarto em vácuo. O telefone. A medo pegou-lhe e ouviu alguém alegre e cansado que lhe contava a jornada até chegar a Londres. Ana tinha ido em trabalho, um cliente importante... Ana, a mulher com quem tinha casado há uns anos atrás. Ana, a mulher que tinha estado afastada da sua mente durante as últimas horas, durante as últimas semanas.
Letícia tinha surgido de novo, a sua paixão de outros tempos. E agora ela tinha saído, altiva, com a certeza de que deixava para trás um homem perturbado.

Enquanto sorria, consciente dos estragos que provocava, Letícia dava as indicações ao taxista para a deixar em casa.

segunda-feira, julho 13, 2009

Arrependimento.

Ela sabia melhor, sempre soubera. Não baixava a guarda nunca, mas as recordações de outros tempos fizeram-na ceder. As recordações eram de tempos idos em que também sofreu mas disso nunca ninguém se lembra... E recordava os andares de mão dada, o toque dele, as mãos dele, o cheiro dele. Inconfundível.
Por isso, quando depois da noite em que secretamente foram um do outro, ele não deu notícias, não respondeu à sua mensagem e não voltou a ligar, Letícia pegou, pedra por pedra, e reconstruiu o muro.
Saiu à noite, com as amigas. Suou no ginásio. Comeu saladas e gelados. Bebeu cerveja, apanhou sol.
Por isso, quando depois da noite em que ele lhe segredou amores que não tinha ao ouvido, ele a voltou a ver, ela tinha pele e cabelo dourado do sol, olhos brilhantes e o que ele via era como se a visse pela primeira vez.
Por isso, quando depois de todas as noites passadas, pedra por pedra, a reconstruir o muro, Letícia seduziu-o. Mas não se deu.
Por isso, quando depois de saber que ele tinha alguém na sua vida de quem se despedia todas as noites com sorrisos, Letizia avançou e agarrou-lhe o cinto. Desapertou-o. Abriu um botão, outro e mais outro. Deixou que as calças lhe caíssem e puxou-o para si. Sentiu-o duro, forte, mas doce por dentro, como se o veneno que ela sentia hoje por ele lhe escorresse pela garganta e o fizesse amarrar àquela sereia.
Letícia sentia-se perigosa. A chama que provocou demorou a queimar, mas Letícia não esmoreceu, nem derrubou. Continuou as sua dança perigosa, com as mãos dele no seu peito, e as dela por cima, como quem grita controlo. Satisfez a sua raiva naquela, hoje, abjecta pessoa que tanto queria mas a quem nada podia dizer. Usou-o por desfeita, por rancor. Hoje ela dormia sozinha, mas ele dormia pior.
Por isso, depois de satisfeita fê-lo vir. Desceu da cama e vestiu o vestido que se colava agora à pele tranpirada. Ele, extasiado mal se apercebeu que Letícia estava saída e foi à casa de banho passar um refresco pelo rosto, recuperar a pulsação, respirar de novo, sem sofreguidão.
E por isso, quando regressou estava sozinho num quarto cheio de um silêncio que o esmagou.

sexta-feira, maio 29, 2009

Aquele encontro inesperado...há muito esperado

Letícia caminhava distraída, a mente divagava entre os contornos do fim de semana e as tarefas planeadas para aquele dia. E de repente, num olhar desatento, encontra uma cara familiar... Ricardo.
Ele também a viu. Assim, sem pré-aviso e sem filtro, sentiu os pulmões apertados e não conseguiu evitar um sorriso. As palavras enrolaram-se na garganta, num angustiante atropelo de hesitações, e as mãos ficaram frias e a suar, num conjunto de sensações que provavam a indiferença impossível em relação a Letícia.
Também ela percebeu que aquela paixão de infância não tinha esmorecido. O coração acelerado e a pele em em alvoroço eram apenas alguns sinais da atracção que ainda sentia por ele. Cruzaram-se e falaram. Num convite para um café, ficaram lembranças revisitadas e sentimentos recuperados por instantes.
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E num impulso Ricardo arrastou-a para sua casa, vazia, livremente auspiciosa, e envolveu-a em si. Queria matar saudades, aproveitar tudo o que não tinham aproveitado em tempos mais inocentes... e, apesar da resistência, Letícia acabou por ceder ao homem que sempre desejou em segredo. Deixou-se levar pelo momento, quase com vontade de o provocar, recuperando a inocência há muito perdida. Mas já estava cansada de esperar, queria-o e queria-o já, "de um querer bruto e fero" como um dia escreveu Almeida Garrett.
Ricardo não se demorou a arrancar-lhe a roupa já de verão, ela beijou-lhe o pescoço com languidez. A língua lasciva de Letícia percorreu a pele do corpo másculo e bem delineado que tinha à sua frente, provocando-lhe arrepios. Ele segurou-a com firmeza pela cintura, apertou-a contra si, sentiu-lhe o bater do coração. Sentiu-lhe o calor e, a cada investida, Ricardo excitava-se mais ao ver as faces de Letícia coradas de prazer. Imaginava-a na pele da menina ingénua e inocente que não tinha tido oportunidade de provar, ao mesmo tempo que se agarrava ao corpo de mulher. Tão sensual e tão quente.
Os sentidos entrelaçados, sensações inesperadas e um desejo quase tangível que os acompanhou até a tarde acabar e a vida reclamar o regresso.

Noites quentes de saltar de parapeitos

Chegou por detrás dela e cheirou-lhe o cabelo. Puxou-os um pouco, gostava de a controlar. Usava a vantagem do tamanho que tinha, em tudo. A mão dele, enorme, rodeava-lhe a cintura e vincou os dedos na silhueta feminina, que lhe enebriava o espírito. Ela, encostada à janela bebia de um cálice de base desgastada, das lavagens, doutras noites, outros amores. Aproximou-se mais. Ela sentia-o cada vez mais, cada vez maior. Ele sabia o tempo que demorar para crescer nela o desejo de o ter e isso agradava-lhe.
Com os joelhos, afastou-lhe as pernas e deixou-se ficar. Ela tremeu. Os seus lábios percorriam-lhe o pescoço e a cabeça dela cedia, descontraindo e caindo apoiada no seu ombro, onde já chorara, noutras noites, noutras viagens. As mãos dela pararam no rabo dele, à medida que as mãos grandes lhe percorriam o corpo, começando pelo peito desenhado na perfeição, cobiçado por todos, tocado por apenas um. Naquela noite.
Sentia-se vulgar por vezes, quando, com fulgor, ele a virava contra si, indefesa. Mas o prazer da caçada tirava-lhe o poder com o qual dominava todas as facções da sua vida. Hoje queria ser ela a presa.

Abri-te as pernas e gemeste de surpresa. Querias ser minha, senti-o nos teus lábios trémulos quando me pedias mais sem o fazer. Fiz do teu umbigo o ponto de partida e subi, conhecendo cada centímetro da tua pele morena, quente, arrepiada. Agarrei-te o pescoço e empurrei-o para trás. Gostas quando tomo a dianteira. Gostas que seja bruto e te controle, que te faça subir. E descer. E subir. Para que desças fulgorosa outra vez e comece a tua dança no meu corpo, também trémulo de cansaço, desejo, prazer.

Respirava mal mas não era a tua mão no meu pescoço. Eras tu a conhecer-me, a fazeres-te convidado em mim. E eu só queria dançar como um, sentir o harfar do desejo e dançar ao som do desespero que era estares dentro de mim. E tu dançavas bem, semi-nú meio sem jeito com calças pelos tornozelos e eu de saia arregaçada contra um parapeito baixo demais. Gosto do risco. Faz-me querer saltar. Saí de ti e afastei-te de mim. As calças dificultaram-te a passada e caíste na cama, em câmara lenta, sensual. Liguei a câmara. E a dança recomeçou. Uma. Outra. e outra vez.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

46 - Sunrise

Conversaram durante horas e, apesar de sentirem a temperatura descer, não tinham vontade de terminar a noite.
- Pequeno almoço em minha casa?
Desafiou Letícia, com um sorriso algo provocador. À defesa, João respondeu com outra pergunta:
- O que é que tens para me oferecer?
- Uma enorme variedade de iguarias que prometem aguçar o teu paladar e deixar-te plenamente satisfeito, ainda antes do amanhecer!
Riram e encaminharam-se para o carro do João. Quando chegaram a casa da Letícia ainda era noite, ela fez café e torradas.

A conversa parecia ter chegado a um fim. O silêncio agora imperava, entre o café quente e deliciosas torradas, as palavras desfizeram-se em sorrisos e olhares envergonhados. Ele inclinou-se, tentando alcançar um guardanapo, Letícia não se desviou e João conseguiu tocar os seus lábios pela primeira vez nessa noite.
O que se seguiu foi pura magia da atracção, carícias, beijos, toques inocentes que despertaram as mais violentas reacções. Enlearam-se nos lençóis beges da Letícia enquanto o sol nascia, o calor inundou o quarto e conduziu-os a um sono reparador.
Quando acordaram, Letícia estava envolvida nos braços de João e sentiu-o beijar-lhe o cabelo antes de ouvir um "Bom Dia" sereno. Por momentos temeu que ele se fosse embora rapidamente, mas as intenções de João eram outras. Começava a gostar daquela mulher sorridente e arisca...