sábado, setembro 15, 2007

Parte XXX -30-

Na viagem de regresso vi-a morder, sub-repticiamente, o lábio inferior por duas vezes.

Não conseguia parar de a imaginar a caminhar languidamente na minha direcção.

- Não queres revelar nada sobre a surpresa?...Nem uma pequena pista?

- Nadinha...depois vês!

Quase tive que me conter para não exagerar na velocidade. Quando chegámos deixou-me abrir a porta e encostou-me à parede beijando-me com sofreguidão, as mãos a segurarem-me firmemente contra o espelho do hall de entrada.
A partir dali já sabíamos o que se ia passar...mas, subitamente, conduziu-me e atirou-me para o sofá da sala.

- Esperas vinte segundos?

- Vão parecer uma eternidade!...

Ela lançou-me um olhar maroto e sorriu. Fiquei a apreciar o balanço das suas ancas inebriado pela sua sensualidade...Sem saber o que fazer mantive-me na mesma posição até ouvir os seus passos ritmados a aproximar-se do sofá.

Ao levantar os olhos não estranhei a sensação de novidade, por muito que olhasse para o belo pijama o meu espanto não diminuía. Mas ainda assim havia algo de diferente, pela primeira vez aquela mulher à minha frente não me fez lembrar a verdadeira dona do pijama, sentia o meu pensamento afastado da Letícia e isso fez-me sentir bem.


Talvez fosse pelas meias de liga e os saltos altos...apesar de achar que não condiziam com o indecente pijaminha dava-lhe um toque estranhamente sensual, como se ainda houvesse muito para mostrar...e havia.

Levantei-me e quis tocar-lhe, acariciar-lhe a pele suave e fazer deslizar o algodão azul até ao chão. Porém, a Ana afastou-se de mim e fez-me um gesto para que me voltasse a sentar. Obedeci sem perguntas, recostei-me...e fiquei a vê-la despir o maldito pijaminha que já na carpete me soube revelar o tão esperado segredo. Uma lingerie preta em perfeita sintonia com o resto dos acessórios. Paralisei. Esqueci por completo toda a magia que um dia tinha reconhecido naquele pijama. O resto seguiu-se como eu tinha imaginado...ou talvez de forma ainda mais intensa.


E na manhã seguinte havia aranhões superficiais na minha pele e um chupão bem marcado no meu pescoço. E quando, ao passar pela sala, olhei para o pijaminha senti que era hora de ser devolvido.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Parte XXIX

Com toda a coragem que conseguiu reunir pegou no telemóvel. O gesto já fora repetido tantas vezes que nem pensou, das outras vezes tinha desistido antes que do outro lado o telefone tocasse. Desta vez não, iria até ao fim.

- 'tá? Olá...estás boa?

- Sim, e tu?

A voz dela estava fria e a dele trémula. Já esperava agressividade da parte dela, mas nunca previra o tom de desilusão que sentia naquela voz que já lhe sussurrara ao ouvido tantas vezes...Continuou apesar de todos os pensamentos lhe negarem a coragem.

- Estou bem...olha, queria explicar o que se passou no outro dia...

- Estás à vontade!

Ela provocava-o sem piedade. Era por estas atitudes que Letícia sempre fora um desafio para ele.

- Desculpa...não queria magoar-te ou ofender-te, de maneira nenhuma! Mas naquele dia eu estava extremamente cansado...não ia ser o mesmo, não conseguiria dar-te o melhor de mim...e tu sabes que não estás habituada a ter o mediano...

Desarmei-a, pensou. Pode ser que não faça muitas perguntas e que se contente com esta explicação. No fundo sabia que ela nunca iria acreditar naquilo, mas mesmo assim não desistiu.

- Hum...para a próxima lembra-te que tu até poderias ser "mediano" mas eu poderia ser extraordinária. Não tenhas tanta sede de protagonismo, 'tá?

A resposta não se fez esperar, seca. Ele forçou uma gargalhada e concordou tentanto fugir ao assunto.

Quando desligou o telemóvel ficou com a certeza que era ele que estava errado, ela podia de facto ser ainda melhor sem o pijaminha por perto...não tinha forma de saber, nunca experimentara! Sorriu para si e prometeu mentalmente nunca voltar a cometer tal erro.