segunda-feira, janeiro 27, 2014

Pequeno-almoço

Acordas-me ao deslizares o teu braço para longe da minha pele. Abro os olhos estremunhada e vejo-te num espreguiçar lânguido: o teu corpo moreno recortado contra o lençol de cor viva deixado ao saboroso abandono de uma manhã de fim-de-semana. Sentia suaves dores por todo o corpo, sabia que ia encontrar negras em locais inacreditáveis dali a uns dias... e sabia que ia sorrir quando as descobrisse.

Levantas-te e segues sorrateiro até à cozinha. Apercebo-me de que estamos em tua casa. A forma sôfrega com que me foste conduzindo pelas escadas até uma das portas no patamar não em deixou perceber se estávamos a entrar na minha ou na tua casa, nem me lembro de ouvir a chave na porta. Entras de novo no quarto a morder sedento uma maçã. Perguntas-me o porquê da minha expressão incrédula, eu sorrio e não te digo no que pensava.

 Aproximas-te carinhoso, onde estaria o feroz amante da noite anterior? O teu toque sedoso e delirante na minha pele amanhecida provoca-me um arrepio. Sorris, deixaste a maçã de lado, não sem antes lhe cravares uma última dentada, deixando o sumo a escorrer pelo queixo. Delicioso e fresco. O melhor dos pequenos-almoços.

terça-feira, janeiro 14, 2014

És tu?

Quando cheguei não quis acreditar no que via.
Seria possível que viesse do outro lado do mundo e acabava a trabalhar ao teu lado?
Soube logo ali, no primeiro dia, que trabalhar contigo ia ser um tormento diário. Demasiadas histórias, demasiados cantos escuros onde os nossos corpos nus se podiam esconder.
Demoraste a encontrar-me. Demasiados gemidos, demasiada tesão contida em tantas noites de roupa interior a meio caminho, rasgada, agarrada a um tornozelo perdido e contorcionista.
Mas quando me encontraste, tiveste-me. Cruzamo-nos num corredor e eu soube. Segui atrás de ti, como se puxada pelo cheiro do fogo que fomos, noutras noites. 
Abandonamos o edifício e na primeira curva à esquerda empurraste-me contra a parede húmida.. Éramos duas.
Estavas duro já, quase zangado. Mordi-te o lábio, tu sabias e não te defendeste. Pouca resistência ofereci quando me torceste o braço e me colaste o rosto à parede. Há pouco a dizer dos teus beijos, uma balada pesada, descompensada e descompassada. Um misto de quase terno e poderoso, tão fodido da cabeça como de mim.
Mordeste-me o pescoço enquanto me percorrias o corpo com as mãos.  Eu sentia-te a latejar e arfava, desgrenhada e desgovernada. Agarrei-te o rabo por trás e puxei-te para mim. 
Abriste o fecho, eu subi o vestido.
Com uma mão cravada na cintura puxavas-me para e contra ti, a outra mão pousada no ombro enquanto te chupava um dedo ou te mordia.
Puxaste-me pelo cabelo e eu virei-me de frente e encarei-te.

- Estas igual, Miguel. 
Leva-me para casa.