quinta-feira, maio 11, 2006

É difícil crêr que me entreguei assim...
Nunca fui quebra-corações, nem chegava às festas arrasando-as, cumprimentando este, aquele ou o outro.
Sempre fui do tipo recatado e eis que me vejo a entrar no seu apartamento, sem quês nem porquês e atiro-me a ela avidamente...
Como é possível? Que tipo de mulher é ela? Uma beleza exótica... Um cheiro...
Sinto-me vivo para um leque de sensações que nunca havia experienciado.
O seu cheiro ainda está na almofada onde adormecemos, cúmplices, depois de uma tórrida noite de... conhecimento mútuo.
Nunca vivi nada assim, e nunca nada me pareceu também tão doentio.
Não é só ela que me provoca algum orgásmico desconforto... há algo nela... ou algo dela absolutamente aliciante...
O jogo de sedução que montou ao despir aquele pecaminoso pijama tirou-me do sério...
Receio os sentimentos que esta mulher e tudo o que ela respira podem despertar em mim.
Mas como qualquer misto de agridoce vício, não me consigo despegar dela. A miscelânea de fluídos e sentimentos partilhados criaram um vínculo magicamente construído de maneira a conduzir os meus pés, inadvertidamente, na sua direcção.
Estou entregue a algo em que nunca quis acreditar, um fado que não pedi, uma vida que não sonhei...e nunca nada soube melhor.

quarta-feira, maio 10, 2006

Memórias... ( parte XI )

Uma gota de água fria no lábio inferior e não consegue dormir. Às voltas nos lençóis as lembranças são recorrentes, estava ali no colchão (sozinha) por causa dele, o maldito pijaminha! O protagonismo do conjuntinho armado em sexy, azul e suave, começava a irritá-la profundamente. No entanto sabia que precisava dele, de o sentir em sintonia com a sua pele para desfrutar em pleno, para conseguir a ligação imperturbável porque tanto ansiava.

Os pensamentos atropelam-se. Já tinha posto a hipótese de se ver livre do pijama porém, aquilo que a consumia não poderia ser resolvido tão simplesmente. Aprender a controlar a influência do pijaminha parecia fácil, mas já conhecia o amargo sabor da frustração...e às voltas na cama repetia que desta vez ia ser diferente.

Uma imagem tão nítida.
Era domingo, em pleno verão. Ela estava em casa, sozinha. Tocaram à campainha...Inconscientemente foi abrir, o cabelo apanhado, só com o pecaminoso pijama no corpo e os pés descalços na madeira.
- Olá...
- Er..Olá.
Era o vizinho do apartamento em frente, alto, cabelo castanho claro, olhar tímido, mas lábios tentadores. Ela tenta falar mais...Envergonhada tentou alcançar a primeira peça de roupa que conseguiu e veio ao encontro da sua mão o casaco de ganga, mas antes que a pudesse vestir, já a mão dele percorria a sua cintura e os seus olhos, outrora tímidos, transbordavam desejo. Sem saber o que dizer, sentiu-se avassalada pela sensualidade dele e quando voltou a si, estava envolvida num beijo intenso e a sua porta já estava fechada...
(Sim já tinha visto aquele filme antes. Sabia que acabava no sofá dele, com o pijaminha no chão.) As mãos passeavam sem pudor no seu corpo, contornando cada curva, abraçando cada insinuação mais sensual, sem qualquer respeito ao pijaminha que foi despido, indecentemente, entre beijos e carícias. Ela tentava afastar de si aquele ser enlouquecido pelo desejo e de quem ela nada sabia.


O primeiro contacto, uma loucura. E horas depois estava ela a sair daquela casa para entrar na da frente, com um sorriso comprometedor nos lábios. Sim, tinham conversado, tinham rido até...Ele tinha-a convidado para lanchar e ela adorara os crepes dele. Até chegar a porteira com a chave suplente.

Lembra-se perfeitamente do som dos seus passos ao sair. Tenta afastar a memória, mais uma volta na cama...E exausta adormece...

segunda-feira, maio 08, 2006

O destino?

E o Destino quis que eu te visse naquela manhã chuvosa.
o problema é que eu não acredito no destino.
O Destino quis que saíssemos na mesma paragem, que fôssemos pela mesma rua, para o mesmo prédio. Quis que tu gostasses da casa e quis que te mudasses para lá nessa mesma semana com esse maldito pijama azul na mala.
o destino é para tolos!
Que tivesses fixado a minha cara e sem qualquer intenção aparente me tivesses deixado entrar, de mansinho, na tua vida.
mas o destino não existe!
Que a corrente de ar te tivesse deixado fora de casa, sem chaves, mas com o fantástico pijaminha, claramente uma fantasia obscura que agitava os meus pensamentos num intenso frenesim. Que a tua voz rasgasse em mim uma nova vida. Que eu estivesse pré-Destinado
pré-destinado?
a passar naquele momento em que te mostraste, vestida, irremediavelmente despida à porta de tua casa. Que, como se nada melhor tivesses para fazer, me beijasses. Assim. Despreocupadamente. Queimando-me ao mais leve toque dos teus lábios, dos teus dedos na minha pele. Um turbilhão de imagens se impusesse. Imaginava-te nua, vestida. Com pijama, sem pijama, pouco importava.
só o Destino.
Secretamente perdi-me ali. Em ti. E jurei acreditar para sempre no Destino que te pôs no meu caminho.