terça-feira, novembro 16, 2010

A minha casa

- Em que pensas?

- Nada...

E um sorriso.

- Sorriste, em que pensas?

- Em ti, no teu corpo...

Ela sorri.

- Em como o meu corpo gosta tanto do teu?

Ele Sorri mais ainda, acena que sim e beija-a.

- O teu corpo é a minha casa.

segunda-feira, setembro 20, 2010

Já não te via há meses.

E nem sei como é possível ser tua vizinha e não te encontrar durante tanto tempo, Miguel. Soube que estiveste de férias... e aparentemente o teu horário mudou. Se calhar até mudaste de emprego e eu não sei.

Mas ontem entraste no prédio quando estava à espera do elevador. E olhaste para mim como se fosse a primeira vez. Vinhas bronzeado com o cheiro das noites de verão e um sorriso delicioso nos lábios. Falámos. Convidaste-me para ver as mudanças que tinhas feito em casa... uma pobre desculpa para me teres na tua arena. Mas eu estava ébria com as lembranças do teu sabor, queria provar-te uma e outra vez, por muito que tentasse negá-lo.  Fui. Dei-te tempo para gastares o latim e fui gentil o suficiente para te deixar ter a iniciativa.

Rodeaste-me e com o peito encostado às minhas costas sussurraste "Tive saudades tuas". Arrepiei-me. E tu continuaste com a dança da sedução. Sorri e rendi-me. Tocaste-me como se estivesses a tocar a minha pele pela primeira vez. Deixei que me despisses, sabia como gostavas de o fazer, sentir esse poder. Demoraste-te em cada centímetro e eu entreguei-me. Fui tua, corpo e alma, objecto de prazer e de admiração, musa e deleite, só para ti. Um só toque da tua mão fazia-me estremecer e eu estava a adorar. Apertaste o meu corpo entre os dedos com fulgor, sentia o desejo na tua pele e o meu a aumentar. Agarrei-te o pescoço e beijei-te, gulosa e sôfrega. Sabias-me bem. Já me tinha esquecido do teu sabor, agridoce, viciante. Depois de te sentir o paladar, quis provar tudo o que o teu corpo parecia esconder. Não deixaste, seguraste-me o queixo e mordeste-me o lábio. Apertaste-me os pulsos e uniste-os ao fundo das minhas costas, ataste-os com alguma coisa que encontraste junto à janela, uma fita da cortina, vim a descobrir depois. E, sem explicações, afastaste-te e despiste-te para mim... sexy. Depois conduziste-nos aos tropeções até ao chuveiro e abriste a água, entre beijos e provocações. A água escaldava e eu queria libertar as minhas mãos para sentir a tua pele, mas estava delirante ao sentir as tuas explorar o meu corpo. Fechei os olhos e deixei-me levar, valeu a pena estar tanto tempo sem ti. Deixaste-me em brasa, à beira do precipício, uma e outra vez, mas só quando me desataste e me levaste para a cama é que me deixaste consumir-te com prazer.

Acordei com o teu corpo colado ao meu, o teu calor a envolver-me numa manhã estranhamente serena. Quis mais, roubei-te um beijo e o sono. Explorei a tua pele morena debaixo dos lençóis... e senti-te arrepiado, em alvoroço com a proximidade da minha respiração e do meu corpo. Também querias mais.

terça-feira, abril 20, 2010

Pedi-te que saísses com descrição do prédio, não queria que te vissem - especialmente o Miguel... Que explicação teria para que saísses de camisa em punho e peito ainda suado, de minha casa, que quase partilho, paredes meias, com as dele? Não demoraria dois segundos a perceber que aqueles gritos, os risos, os gemidos, eram os teus.
Olhaste-me como se te usasse mas sei que não estiveste comigo esta noite. Outras curvas, outros olhos toldavam-te a mente [e tu achas que eu não te conheço?] mas às vezes, sexo era só sexo e quis-te mostrar que hoje, fizeste com que assim fosse.
Estava cansada de tanta noite de suor desmedido sem um beijo doce pela manhã, mas não era isso que queria para mim. Ia parar. Ia parar com as noites de perdição contigo e com ele, o stress absoluto para que nenhum soubesse de como o outro me fazia gemer.
Pensei em escolher... mas como? Tu com o teu corpo de deus grego [que maior cliché, mas a verdade é que ninguém saiu melhor esculpido], ele com as palavras e um olhar que me deitava por terra e me deixava a pedir [implorar, lembras-te Miguel? Não seria a primeira vez...] por mais...
Por isso ia parar. Para já, só queria parar...

sexta-feira, abril 16, 2010

Regresso a casa

Enquanto caminhava em direcção a casa, pensava no banho quente que iria preparar. De repente, começou a chover torrencialmente e nem a corrida afogueada e extenuante a salvou de abrir a porta já com o cabelo a pingar. Do outro lado, alguém esperava impaciente o elevador.
Os seus olhos cruzaram-se. Não se viam desde daquela tarde em que Letícia o tinha deixado sentado numa cama abandonada. Ricardo esforçou-se por parecer descontraído, ia visitar o amigo de longa data que tinha na casa em frente à de Letícia. 
- Olá - disse-lhe num tom nervoso indisfarçável.
- Ah olá, Ricardo! - foi a resposta serena e aparentemente inabalável da encharcada Letícia.
Entraram os dois no elevador, o espelho embaciou-se: ela tinha chegado com a chuva na roupa e o calor na pele. Ele tentou manter a respiração compassada e calma. Sentia as mãos dormentes e uma vontade absurda de lhe agarrar na cintura e lhe largar beijos no pescoço.
Letícia aproximou-se da porta, Ricardo aproximou-se dela sem lhe tocar, sussurrou-lhe ao ouvido. Ela estremeceu, não pelas palavras que ouviu mas pelo pulsar dos lábios tão próximos do seu pescoço.
Virou-se, repentinamente, e surpreendeu-o com um beijo que o encostou a um dos cantos do elevador. As portas abrira-se quase no mesmo minuto e ela saiu sem olhar para trás. Foi rápida a abrir a porta de casa e entrou. Respirou fundo. "Ainda bem que não passou disto" pensou. Pouco depois ouviu a campainha da porta da frente e os cumprimentos dos dois amigos. Perguntou-se se o Miguel saberia de alguma coisa sobre ela e o Ricardo, afinal de contas eles eram tão amigos...




quinta-feira, abril 08, 2010

Tarde sagrada com o pecado na mente

Levantei-me e desta vez consegui sair do teu ninho. Roubei-te uma t-shirt antiga, e desci, descalça, até minha casa. Vesti uns calções justos [aqueles que tu adoras sabes? com os quais me fotografas sempre...] e fui correr. Precisava de suar o que tinha de teu em mim. Precisava de sentir algo que não as ondas que me provocavas e me subiam a coluna, arrepiando-me.
Suei uma vida, duas noites de sexo, muitas fantasias. Sabes como gosto de correr de cabelo ao vento e peito firme, seguro. Sabes como me sinto depois de correr, suar as noites de sexo que temos em segredo. Voltei a casa e pus a água a correr. Ouvia os vizinhos do direito a fazer sexo. Ela batia com a cabeça na parede e gemia e quis ter-te comigo, comer-te outra vez. Delicioso. Poderoso. Meu. Arrepiei-me e enfiei-me no duche. As altas temperaturas, o vapor convidavam-me a ficar e conhecer o meu corpo mas adiei o toque e pus um fim ao auto-conhecimento. Hoje encontravamo-nos na igreja. Podiamos fazer dezenas de piadas com a nossa presença ali, num sítio sagrado onde só o pecado nos vinha à mente.
Entrei na Igreja e tu já lá estavas, camisa aberta a três quartos, a pele morena, arrepiada quando olhaste para mim. Preto. Eu vinha de preto. Maquilhagem esforçada, que o suor esborrataria mais tarde. A cerimónia decorreu, cheia de palavras sacras mas nós estavamos longe. Tu, sentado no banco atrás de mim, nós atrás de todos os outros. Sussurravas-me na nuca e eu estava mais acesa do que nunca... cruzei as pernas para que parassem de tremer. Esperámos que saíssem, alegámos que precisavamos de um momento. Para nos dedicarmos a algo...divino: nós. Nús.
Seguiste-me até ao confessionário e se pudesses pregavas-me as mãos por cima da cabeça. Com força, mantiveste-me assim, presa e beijaste-me o corpo.Ficaste de joelhos e esperaste que me juntasse a ti. Sentei-te no banco e tomei o meu lugar no teu sexo. O velho banco de madeira rangia e o som só me fazia acelerar o movimento, desejar-te mais dentro de mim.Arrastaste-me até aos degraus que nos levavam ao altar e os reflexos de cor dos vitrais no meu peito acenderam o animal em ti. Viraste-me de costas com brusquidão e deixaste-me de joelhos apoiados no chão e a minha traseira suada junto à tua frente definida, erguida. Enrolei os meu braços no teu pescoço, seguraste-me o peito com uma mão, o cabelo com a outra. Mais uma vez doía, como doia sempre que estava contigo. Mas não parávamos, nunca, não tão perto da melhor parte. Aceleraste o ritmo e tive de me morder para não gritar, uma, outra e outra vez. Cravaste as unhas na minha cintura, deixando-me saber que te aproximavas do fim. Fui lá contigo e gritei. Um grito suado, ousado, abafado... pelo grito do sino da Torre da Igreja de vidros embaciados.

domingo, março 21, 2010

The Morning After

Acordas-me ao libertares o teu braço de mim. Abro os olhos estremunhada e vejo-te num espreguiçar lânguido e delicioso: o teu corpo moreno recortado contra o lençol de cor viva, o meu, deixado ao saboroso abandono de uma manhã de fim-de-semana.

Sentia suaves dores por todo o corpo, sabia que ia encontrar nódoas negras em locais inacreditáveis dali a uns dias... e sabia que ia sorrir quando as descobrisse. Levantas-te e segues sorrateiro até à cozinha. Apercebo-me de que estamos em tua casa. A forma sôfrega com que me foste conduzindo pelas escadas até uma das portas no patamar não em deixou perceber se estávamos a entrar na minha ou na tua casa, nem me lembro de ouvir a chave na porta. Entras de novo no quarto a morder sedento uma maçã. Perguntas-me porque é que estava com uma expressão incrédula, eu sorrio e não te digo no que pensava. Aproximas-te carinhoso, onde estaria o feroz amante da noite anterior? O teu toque sedoso e delirante na minha pele amanhecida provocou-me um arrepio. Sorris, pousas a maçã na mesinha de cabeceira, não sem antes lhe cravares uma última dentada, deixando o sumo a escorrer pelo queixo. Delicioso e fresco.

Gentilmente, passeio a minha língua pelo teu pescoço, mordisco-te o ombro e aperto-te contra mim. Sinto a tua respiração ofegante na minha pele e o teus dedos firmes por todo o meu corpo. Mordes o lábio e olhas-me nos olhos de forma lasciva. Tocas-me, acaricias-me, provocas, sabes como reajo às tuas investidas nos meus mamilos e esforças-te ainda mais. Desces lentamente pelo meu corpo e consigo sentir o quente dos teus lábios aproximar-se cada vez mais das minhas virilhas, estremeço. Sinto a tua língua, os teus dentes, suaves, provocantes, deliciosos.

Não desistes até me sentires vibrante em doces ondas de prazer, não desistes até me levares onde queres, não desistes até me deixares sem respiração por momentos. Sorris e deitas-te ao meu lado, adoras ver-me corada e ofegante depois de um orgasmo assim. Devolvo-te o olhar e tu percebes que só tens de esperar que eu recupere as forças...

quarta-feira, março 17, 2010

Nunca fiz isto antes

Passaram-se meses desde a nossa última queca.
Deixei-me de rodeios - em palavras e memórias - e hoje preciso que me saltes em cima.
"Fazes-me falta, merda!". Odeio assumir que preciso da tua mão entre as minhas pernas mas já não me sinto como quando o fazíamos...Aproveito o turpor das memórias e deito-me na cama do meu quarto escuro e adormecido, os estores escorridos e a música que nos faz querer suar no tapete. Tu não estás mas não estou sozinha. A tua memória persegue-me e é como se estivesses no quarto...
Seguras-me o pulso atrás das costas e torce-lo. Doi-me, tu sabes, mas eu gosto (tu também sabes). E dobras e quase que o partes mas concentro-me no caminho que a tua outra mão percorre no meu corpo. Lombar, umbigo, desce a virilha e pára. Estou quente, quase febril e as tuas mãos são cubos de gelo, como tu, indiferente.
Encostas-me à parede e seguras-me, agora, os pulsos por cima da cabeça. Odeio-te mas quero-te demais e a tua invencibilidade complementa o three-some que desempenhamos hoje.
Começas a tua dança de homem que sabe o que quer e agarras-me o peito, és um polvo com mil mãos que invadem o meu espaço e perco-me do meu elemento. Estou nua, em ruína, presa entre ti e a parede e momento nenhum soube melhor.
Há tanto que não te disse, mas encaro-te e mordo-te o lábio. Sangras um pouco e riste-te. "Puta", dizes. "Estás a portar-te mal...".
Atiras-me para a cama e fazes-me tua. Eu beijo-te o corpo, agora mais quente e menos indiferente e agora mando eu. Estás sentado à beira da cama e enquanto te beijo amarro-te. Não dás conta, mas melhor assim, sei que vamos ter uma longa noite...O que fizermos hoje, nunca fizemos antes.