quinta-feira, julho 26, 2007

Tentação ( parte XXVIII )


Os olhos impecavelmente delineados a preto, as pestanas estendidas pretensiosamente na ponta das pálpebras, o verde espraiado na retina que me fitava. E sorria, aquele sorriso de quem sabe os estragos que provoca…tinha a pele beijada pelo sol, os ombros escuros e dourados, os lábios carnudos mas sem baton. O cabelo…ah! O cabelo caia-lhe em cascata pelos ombros e costas, as ondas negras conduziam ao decote generoso. Uma perdição e eu estava a ficar desorientado. Nunca a tinha visto assim, tão linda. Não a vira vestir-se por isso era uma surpresa redobrada vê-la tão produzida para mim..só para mim. Aquela mulher era uma tentação, a minha tentação.

E de repente lembrei-me da Letícia, ela nunca faria isto. Lembrei-me dos ombros morenos dela nos nossos tempos de adolescentes, os mergulhos divertidos na piscina municipal.

A Ana tocou-me na mão e fez-me voltar a realidade, pediu-me ajuda para escolher o menu e depois de ter falado com o garçon, virou-se para mim.

- Hoje tenho uma surpresa para ti.

- Uma surpresa? Hum…Não queres dar-me uma pista?

- Não…vais esperar até logo.

Sentia o coração bater mais forte só de imaginar a noite escaldante que se avizinhava. Não consegui parar de a visualizar com o pijaminha azul indecentíssimo a caminhar na minha direcção, os saltos ainda calçados. Tinha casado com uma mulher lindíssima.

Conheci a Ana na faculdade depois de ter acabado uma relação acalorada com a Letícia…E a Ana soube apagar tudo o que ainda me prendia à desafiante Letícia, ou pelo menos soube esconder tudo o que eu sentia ainda por ela.

Mas acabei por encontrá-la, sete anos mais tarde, quando fui a casa dum cliente. Era vizinho dela, fiz o possível e o impossível para que ela não me visse quando me apercebi de que era ela. O seu vizinho Miguel é neto de um velho magnata muito rico e o seu avô pediu-lhe ajuda com o testamento, queria um advogado para tratar das coisas. Mas numa das visitas que lhe fiz toquei no assunto da bela vizinha e fiquei ali, petrificado, a ouvir tudo o que ele sabia, sentia e queria dela. Nesse momento senti a inveja roer-me os órgãos internos mas aguentei-me…foi só quando ouvi falar no pijaminha que tive a certeza que ele teria de ser meu!...talvez para que também ela voltasse para mim.

Mas um misto de arrependimento e pena apoderou-se da minha mente naquela noite, a mulher que eu tinha escolhido para mim estava impressionantemente linda e eu ia aproveitar cada segundo. Já previa a continuação daquele jantar na minha cabeça, já quase era capaz de ouvir os gemidos dela, de sentir as suas unhas suaves deslizarem inconscientemente pelas minhas costas, já quase sentia os seus dentes cravados no meu ombro num culminar de sensações de prazer…Ela merecia-o e eu também.

Quando saímos do restaurante não conseguia pensar noutra coisa…foi quando reparei que, reflectida no tejadilho do carro, estava uma lua impecavelmente cheia.

Sabem o que dizem sobre a libido das mulheres em noites de lua cheia, não sabem?

1 comentário:

Anónimo disse...

eh la !!!
gostei dos pormenores das unhas e dos dentes...
mto bem sra Tats =) *